CRÍTICA | Wicked e o segredo para ser tão popu...lar
- Edu Santana (Convidado)
- 21 de nov. de 2024
- 6 min de leitura

Com mais de 100 prêmios importantes acumulados desde sua estreia na Broadway em 2003, o musical Wicked foi adaptado para o cinema como um dos projetos mais ambiciosos do gênero. Com um orçamento estimado 150 milhões de dólares, o filme busca não apenas encantar os fãs do espetáculo original, mas também conquistar um novo público. Dirigido por Jon M. Chu, conhecido por obras como In the Heights (2021) e Jem and the Holograms (2015), a adaptação será dividida em duas partes. Para trazer à vida o mundo mágico de Oz, a produção plantou cerca de 9 mil tulipas no Reino Unido e construiu gigantescos cenários, com tamanho de cinco campos de futebol. A proposta ousada de Jon M. Chu, ao priorizar o uso de recursos práticos, possibilitou uma experiência imersiva para o público.
Wicked é uma releitura da história clássica do Mágico de Oz (1939), que foca na vida da Bruxa Má do Oeste, Elphaba, interpretada por Cynthia Erivo. A trama explora sua trajetória antes e durante os eventos da história de Dorothy, com enfoque na amizade complexa de Elphaba e Glinda, a Bruxa Boa, vivida por Ariana Grande. Inicialmente, a escolha de Ariana para o papel gerou controvérsias. Por ser uma figura da música pop com caricaturas tão próprias, alguns fãs do musical questionaram se ela conseguiria captar a essência da personagem. Mas, a atriz, agora assinando como Ariana Grande-Butera, se despiu de todo espírito de estrela da música pop para dar vida à cômica e nada modesta Bruxa Boa, entregando uma das melhores adaptações da personagem.

Reprodução/ Universal Studios
Ao som de "No One Mourns the Wicked", os habitantes da Vila dos Munchkins celebram a morte de Elphaba, a temida Bruxa Má do Oeste. Glinda surge confirmando a notícia e expressando o alívio coletivo da população por se livrar da figura que consideravam o mal encarnado. A performance de abertura não apenas impressiona pelo espetáculo visual, mas também pelo brilhantismo vocal e pela comicidade presente na interpretação de Ariana. Durante a música, a reflexão central é introduzida: "As pessoas nascem más ou a maldade lhes é imposta?". Essa questão é levantada após um camponês questionar Glinda sobre a verdadeira natureza de Elphaba.
Glinda começa a revelar detalhes sobre sua complexa amizade com a Bruxa Má ao revisitar o local onde tudo teve início: a Universidade de Shiz. A transição para esse novo cenário é marcada pela canção "Dear Old Shiz", que introduz de forma primorosa o ambiente acadêmico e as protagonistas. Elphaba, encarregada de cuidar de sua irmã Nessa, e Galinda, uma jovem mimada determinada a se tornar uma brilhante feiticeira, têm seu primeiro encontro em circunstâncias nada amigáveis. Essa interação inicial estabelece o tom da incrível dinâmica entre as duas. A fim de ajudar a irmã, Elphaba, impulsivamente, revela seus poderes. O incidente chama a atenção da diretora da universidade Madame Morrible (Michelle Yeoh), que rapidamente a convida para ser sua aluna especial e informa que ela dividirá o quarto com Galinda.
Na primeira conversa com Madame Morrible, a diretora revela que sempre esperou por alguém tão talentoso quanto Elphaba, alguém destinado a se tornar o braço direito do renomado Mágico de Oz. Isso desperta na personagem, que sempre enfrentou rejeição por parte de familiares e conhecidos, um profundo sentimento de esperança e pertencimento.

Reprodução/ Universal Studios
Cheia de inocência e entusiasmo, Elphaba expressa suas emoções na poderosa canção "The Wizard and I", onde imagina uma nova vida ao lado do Mágico, livre do preconceito e finalmente reconhecida como alguém especial. Nesse momento, o talento de Cynthia Erivo brilha intensamente. Sua voz e sua entrega emocional traduzem cada nuance de conquista, sonho e vulnerabilidade da personagem. Off: O show de luzes e sombras nessas cenas é um espetáculo à parte.
O ápice da rivalidade entre Galinda e Elphaba começa com ambas escrevendo cartas para seus pais, descrevendo suas primeiras impressões sobre as novas colegas de quarto. Com humor e sarcasmo, as personagens deixam claro o desgosto mútuo, consolidando a ideia de que o que sentem uma pela outra é puro ódio. Esse conflito resulta em "What Is This Feeling", o primeiro dueto das protagonistas. A canção combina ironia e exagero cômico, enquanto Galinda expressa seus maneirismos extravagantes e Elphaba responde com seu tom ácido e debochado. Essa dinâmica não apenas destaca as diferenças entre as duas, mas também estabelece a base para a rivalidade que define grande parte de sua jornada juntas em Shiz. Assim como no teatro, essa cena permanece como um dos momentos de maior destaque.
Ao perceber que Oz está longe de ser a terra mágica e justa que aparenta, o Professor Doctor Dillamond (Peter Dinklage) compartilha uma inquietante revelação em "Something Bad": os animais falantes estão desaparecendo gradualmente e perdendo seu lugar na sociedade oziana. Esse alerta aprofunda a sensação de injustiça que permeia o universo de Elphaba e desperta sua empatia pela causa dos animais.

Reprodução/ Universal Studios
Após esse momento de infelizes descobertas, Elphaba conhece Fiyero Tiggular (Jonathan Bailey), um príncipe encantado, que inicialmente prega a filosofia de uma vida sem preocupações na canção "Dancing Through Life". Aqui Jonathan Bailey adiciona mais um herói “charmosão" ao seu portfólio. Mas, é o tom de comédia e a entrega de um personagem deliberadamente folgado que o torna diferente dos demais. Ele equilibra charme e superficialidade, trazendo uma leveza e profundidade que se desenvolvem conforme o personagem evolui ao lado de Elphaba.
Ao ser convidada para uma festa por Galinda e ser ridicularizada por conta do seu chapéu pontudo, Elphaba revela um lado mais vulnerável ao fazer uma dança peculiar na frente de todos em vez de fugir. Sentida por tudo que fez Elphaba passar, Galinda decide se juntar a ela e imitar seus passos de dança. Esse gesto marca o início do vínculo de amizade entre as duas, que se consagra na música "Popular". Nessa canção, Galinda se propõe a transformar “Elphie”, apelido dado a Elphaba, em uma pessoa popular, acreditando que poderia mudar a percepção que todos têm dela. A ideia de que rosa e verde combinam ganha vida, e a produção explora de maneira brilhante a diversidade de cenários, jogos de câmeras e figurinos, ampliando mostrando o potencial do cinema em expandir e intensificar o que é feito no teatro. Lindo isso!

Reprodução/ Universal Studios
Percebendo que Galinda, agora sua amiga, está em um romance com Fiyero, Elphaba expressa sua vulnerabilidade em "I'm Not That Girl". A canção reflete o sentimento de inadequação de Elphaba, que se vê como alguém que nunca seria a garota pela qual o príncipe se apaixonaria. Cynthia Erivo, mais uma vez, dá um show cheio de emoção e delicadeza.
Em meio ao turbilhão de seus sentimentos e com a decisão do Professor Doctor Dillamond de não poder mais lecionar na Universidade Shiz, Elphaba recebe uma carta do Mágico de Oz convidando-a a visitar a Cidade das Esmeraldas. Juntamente com Glinda, ela embarca em um trem. Ao som de "One Short Day", o momento é uma verdadeira homenagem aos fãs do musical: as atrizes originais da Broadway, Idina Menzel e Kristin Chenoweth, fazem uma aparição especial. Elas se juntam às suas versões cinematográficas, compartilhando um abraço emocionante. A cena levou o público (e a mim, principalmente) a lágrimas.
No momento seguinte, Elphaba finalmente encontra o Mágico de Oz (Jeff Goldblum), que apresenta um mundo de possibilidades, onde juntos formarão uma dupla imbatível. Em "A Sentimental Man", o Mágico revela seus desejos mais profundos: ele não quer mais se sentir sozinho e sonha em se tornar pai, oferecendo a Elphaba uma vida de oportunidades. Encantada com esse futuro, Elphaba realiza um encantamento que vai contra seus princípios, prejudicando os animais e se deixando manipular pelo Mágico. A performance de Goldblum como um canastrão é algo que funciona muito bem.

Reprodução/ Universal Studios
Ao entender da manipulação e as consequências de suas ações, Elphaba finalmente se dá conta de que foi usada e que, de agora em diante, ela e o Mágico serão inimigos. Esta virada na trama marca um ponto de ruptura importante para a personagem, que decide se afastar das falsas promessas do Mágico e lutar por suas próprias crenças. No fim do primeiro ato, em "Defying Gravity", Elphaba convida Glinda a se juntar a ela para desafiar o Mágico e todos os que se opõem a ela. Com plena consciência do seu poder, Elphaba encerra este ato com uma confiança antes não vista, assumindo o manto de Bruxa Má do Oeste. A mistura de sentimentalismo e confiança, aliada a um poderoso vocal, não deixa dúvida alguma sobre a escolha de Cynthia Erivo para interpretar a Bruxa Má.
As atuações impecáveis, os vocais impressionantes e cenários deslumbrantes, provam que Wicked não é uma adaptação feita apenas para ocupar espaço, mas uma reinterpretação que realmente traz novas perspectivas para a história. A dinâmica entre Ariana Grande e Cynthia Erivo, que transborda para além das telas, confirma que o segundo ato será um dos pontos altos do cinema em 2025.
Nota: 5/5 🔮🧹🌸🌷🌿🎍
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