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moqueka

O NERD TEM QUE ACABAR

Atualizado: 8 de jun. de 2024

Burros, incels lutam contra inimigos imaginários para sua existência fazer sentido


Nerd precisa acabar

Você pode não acreditar, mas houve um tempo, bem lá atrás, que ser identificado como nerd era algo positivo. Essa época já passou. Eu, hoje, ao ver quem está nas trincheiras verbalizando que é “nerd; fã de cultura pop”, procuro automaticamente ir para o lado oposto. Recomendo que você faça isso também. Atualmente, se o sujeito se define como “nerd raiz”, com ele já vem junto um combo de ódio às minorias e baixo nível de interpretação do que assiste.


Esses, conhecidos como incels — mas só porque o termo “cabaço” entrou em desuso —, estão se espalhando como ervas daninhas nas redes sociais. Por ora, acho que somente na Internet. Afirmo isso por experiência pessoal, já que nunca vi grupos de incels reunidos presencialmente vociferando contra a “cultura woke” por aí. Não sei se porque eu sei escolher bem os ambientes onde frequento ou porque eles vivem em um Brasil Paralelo.


De qualquer sorte, eles existem e se apropriaram de um termo que eu gostava muito, o que é uma pena e me enraivece. O que me incomoda nesse pessoal, além do fato deles serem feios (sou feiofóbico), é como eles se superestimam intelectualmente. É mole? O sujeito que cresceu lendo X-men e hoje em dia fica chateadinho porque o cinema de super-heroi também dá protagonismo a mulheres deve ter visto só as figuras e ignorado completamente os balões de falas. Não dá para chamar isso de inteligência. Os mutantes, desde sua origem, só buscam igualdade de direitos nas hq’s, assim como negros, mulheres e a população LGBTQ+ fora delas. Mas os ditos “nerds” têm alergia a alegorias.


Pense em um camarada que assistiu todos os setecentos filmes de Star Wars e não conseguiu captar a mensagem de que o Império é uma organização supremacista branca (entenda-se, humana) e os Rebeldes são um grupo multicultural que se opõe ao regime. Se o incel estivesse nesse universo muito, muito distante, ele postaria no Twitter intergalático que Darth Vader é um mito e o erro do Imperador Palpatine foi matar pouco. O massacre no Templo Jedi, para eles, teria sido “dentro das quatro linhas da constituição” em nome de impedir um suposto golpe.


Darth Vader
Darth Vader da "lacração"

Não para por aí. Noto que o incel quer cada vez mais ver filmes apolíticos. Só faltam gritar “Quero um cinema sem partido!”. Supostamente, o “progressismo selvagem” estaria enchendo de “política da lacração” os filmes e jogos dos seus personagens favoritos. Recentemente, o novo jogo do Homem-Aranha causou um alvoroço porque o Spider (pasme!) não curte armas de fogo. Quem poderia imaginar que o Peter Parker, que teve o tio assassinado com um tiro, seria pró-desarmamento?


De novo, me enraivece. Sou burrofóbico também. Outra coisa que me incomoda é como esse público tem uma enorme dificuldade em lidar com a ideia de adaptação. Para eles, o cinema tem que colocar em tela uma cópia exata da página do quadrinho. Não vale mudar etnia, orientação sexual, gênero, etc. em nenhuma instância. Esse conservadorismo — no sentido radical da palavra — deve ser tratado na terapia, acho. De onde vem tamanha dificuldade de abrir mão daquilo que está acostumado? Ora, se você quer ver uma história absolutamente igual à que você já conhece, a assista novamente. Que dificuldade é essa com releituras? “A Ariel era branca na minha infância!”. Agora não é mais, bola para frente. Aliás, que inveja tenho da vida das pessoas cujo a etnia de uma sereia é considerado grande problema. Imagino que não existam maiores preocupações.


Dizem que o cinema de super-herói é hoje o que foi o de faroeste na metade do século passado. Os westerns dominavam Hollywood e assim se mantiveram por cerca de 50 anos — a onda dos filmes de boneco não deve chegar a tanto tempo. John Ford, Clint Eastwood e John Wayne foram os grandes astros de uma geração, mas até para eles o ápice chegou ao fim. A queda dos ‘filmes de bang-bang’ aconteceu porque o público se esgotou em dado momento. E tudo bem, pode voltar um dia. Mas o esgotamento veio porque a audiência queria algo diferente. Nos filmes de super-herói de hoje em dia, no entanto, o cansaço parece ter vindo não porque os pseudoconservadores querem algo novo, mas porque querem sempre mais do mesmo — filme de origem, homem imaculado como herói sem camisa, bem vs mal.


E não me leve a mal. Não acho que representatividade garanta qualidade. Ser uma realização importante não faz um filme ser necessariamente bom. Mas, para os nerdolas (bom termo esse), ser representativo automaticamente faz um filme ser “cancelável”. Promovem boicote e falam mal da obra em todos os espaços que frequentam. Enquanto eles buscam uma tribo que os aceite para sua existência e conspiracionismo fazer sentido, a gente segue sabendo que a sociedade não vai ser pautada por filme de quadrinho. O lado bom, por enquanto, é que é só desconectar o modem que essas discussões acabam.



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