MIDNAITE | O QUE É O FOUND FOOTAGE?
- Alan Pinheiro
- 17 de jul. de 2024
- 3 min de leitura

Com o lançamento de Entrevista com o Demônio (Late Night With The Devil, no original) no início do mês, o Moqueka aproveita a oportunidade para apresentar o MIDNAITE, selo de terror do site. Protagonizado por David Dastmalchian, o novo longa aproveita a estética de filmes Found Footage para contar a história de Jack Delroy, um apresentador de um programa de talk show que liberta um mal descontrolado ao vivo para tentar salvar a sua reputação. No entanto, o que é Found Footage?
Comumente citado como um subgênero do terror, é importante destacar que o termo está presente na história do cinema desde a sua criação. Isso porque Found Footage pode ter relação com filmes que empregam material filmado por outra pessoa por algum outro motivo. Ou seja, uma gravação pré-existente reaproveitada.
No entanto, aqui vamos nos referir ao termo como um recurso narrativo, mais próximo da definição da crítica de cinema Alexandra Heller-Nicholas de que o Found Footage são “filmes que apresentam material que é literalmente encontrado ou descoberto”. E como especificou o jornalista Scott Meslow, esse material ou gravação precisa ter sido gravado ou editado por um ser existente dentro do universo da obra.
Mas, para explicar melhor qual o trunfo desse tipo de obra, vou precisar contar uma pequena história.

Em 1994, três estudantes de cinema de Maryland se juntaram e decidiram gravar um documentário sobre uma lenda urbana conhecida no município. Para isso, os três juntaram seus equipamentos e partiram em direção à floresta de Black Hills. Segundo relatos dos moradores, no final do século XVIII, uma mulher chamada Elly Kedward foi caçada pelos aldeões de Blair após crianças da vila alegarem que foram seduzidas a entrar na floresta e utilizadas em experimentos da bruxa. Após sua morte, cada uma das pessoas que acusaram a mulher foram desaparecendo misteriosamente - um por um - sem contar metade das crianças da vila que sumiram sem deixar rastros, o que levou ao abandono da vila.
Foi a partir da curiosidade de conhecer mais sobre essa história que Heather Donahue, Joshua Leonard e Michael Williams entraram na floresta e nunca mais foram vistos. O único resquício do paradeiro dos estudantes foi uma mochila achada um ano depois, em uma cabana abandonada, com câmeras, fitas e rolos mostrando a história da Bruxa de Blair.
O filme, por mais simples que pareça, alcançou um faturamento de mais de US$ 107 milhões em sua terceira semana de exibição, entre 14 e 16 de agosto do ano de estreia. Hoje, o longa faz parte da lista dos 100 filmes americanos de maior faturamento de todos os tempos. Grande parte do sucesso da produção veio a partir do trabalho realizado longe das câmeras, com a propaganda sendo parte fundamental desse processo.

A missão da dupla de diretores era deixar a ficção cada vez mais enraizada dentro da realidade. Para isso, cartazes de procurados foram espalhados pela cidade de gravação do filme com o rosto dos atores - que permaneceram longe dos holofotes durante esse período. Um site com reportagens de telejornal e jornal impresso sobre o caso e entrevistas com amigos e professores foi criado para enriquecer o universo do filme. Além da presença na internet, um documentário foi veiculado com relatórios policiais, cópias de um suposto livro de feitiços, ilustrações, manchetes de jornal e registros oficiais de todos os casos relacionados à bruxa.
A conjunção desses fatores tornou A Bruxa de Blair em um fenômeno na história do cinema, influenciando uma leva de produções a adotarem o Found Footage como forma de contar novas narrativas. Dentre essas produções, as franquias Atividade Paranormal e V/H/S, além de filmes como REC (2007), Cloverfield: Monstro (2008) e Lake Mungo (2008).
Apesar do marco, a lenda da bruxa de Maryland não foi a primeira produção desse subgênero do terror. O título pertence a Holocausto Canibal (1988), que enfrentou uma lista de polêmicas e banimentos ao redor do mundo pelo assassinato de animais para o filme. A história por trás do filme de Ruggero Deodato, no entanto, fica para uma próxima.
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