Fullmetal Alchemist Brotherhood - #1: O Início (ep: 1)
- Roger Caroso
- 24 de abr. de 2024
- 7 min de leitura
Atualizado: 19 de jun. de 2024

Em abril de 2009, no Japão, aconteceu a estreia do que seria um dos animes mais consagrados de todos os tempos, Fullmetal Alchemist Brotherhood (鋼の錬金術師 FULLMETAL ALCHEMIST). A série é uma adaptação direta do mangá homônimo escrito pela Arakawa Hiromu, que durou de 2001 até 2010. Contudo, a trágica história dos irmãos Elric já havia ganhado um anime no ano de 2003, mas essa versão chegou nos acontecimentos do mangá muito rapidamente, recebendo carta-branca para andar com as próprias pernas desse ponto em diante. 15 anos depois, estou aqui para conversar um "pouquinho" sobre essa obra que vem me acompanhando desde 2013 e que anualmente reassisto, sempre descobrindo novas informações ou captando outras nuances.
O intuito dessa nova série do Moqueka é destrinchar conjuntos de episódios a cada texto, tendo um espaço para comentar os desdobramentos do anime pelos olhos de alguém que já é bem familiar com a obra e que busca propagar o nome de Fullmetal Alchemist Brotherhood. Hoje, começamos pelo lugar mais óbvio possível, pelo primeiro episódio. Obviamente que esses textos vão conter spoilers dos episódios retratados. Já sobre os capítulos seguintes, a ideia é de minimizar os spoilers, mas alguns detalhes futuros vão ser sim debatidos de forma mais branda, em casos de spoilers pesados, haverá um aviso.
É se esperar que no primeiro episódio a trama e seus personagens da obra sejam bem apresentados e desenvolvidos dentro de um contexto favorável, tendo espaço para que o background geral e explicações estejam bem presentes. Nesse sentido, o capítulo inicial de FMAB não toma um dos caminhos mais ortodoxos, aqui o espectador é jogado em uma situação em andamento, com seus personagens com funções bem definidas e voltados para o agora, não para como foi chegar ali.

Neste episódio somos apresentados a Isaac “Alquimista do Gelo” McDougal, um ex-alquimista federal que após a “Guerra Civil de Ishval” se tornou um insurgente contra o governo militar do país de Amestris. Esse tanto de informações em uma frase parece coisa de mais para se captar de cara, visto que dentro desse universo, essas “informações” são tratadas com normalidade, não existe uma necessidade de um diálogo expositivo para explicar essas questões entre os personagens. Fullmetal não tem intenção de entregar tudo de cara ao espectador, os fatos são entregues e expostos, se você não tiver entendido, a explicação vem no seu devido tempo.
Esses diálogos diretos e pouca explicação do que está se passando tem um certo motivo além do narrativo. Como a série original de 2003 já havia adaptado todo o começo do mangá, era esperado do espectador que ele já tivesse alguma noção desse universo. Na primeira versão em anime do mangá, o episódio inicial é muito mais próximo do que se imagina de uma base para o começo de uma obra e por isso mesmo, o Brotherhood faz diferente.
Mas respondendo possíveis questões geradas por aquelas informações. Os personagens da série são habitantes do país de Amestris, uma nação governada por militares e liderada pelo Führer King Bradley. A alquimia é uma ciência baseada na decomposição e recomposição, nesse universo, pessoas podem se tornar Alquimistas Federais, uma espécie de arma humana, capaz de realizar feitos especiais e sendo equivalente a um major na hierarquia militar.
Isaac abandonou o exército após o conflito conhecido como “Guerra Civil de Ishval” que nesse ponto da história nós ainda não temos muito o conhecimento do que aconteceu, mas pelo nome dá para sacar que coisa boa não foi. Em sua revolta, o homem se vira perante ao governo, endossando uma teoria conspiratória que envolveria o alto escalão do país… será que isso é tudo, é apenas uma grande teoria mesmo?
Nosso protagonista, Edward “Alquimista de Aço” Elric, é um alquimista federal, mas ele não é normalmente associado a essa posição por conta de sua pouca idade (e tamanho!). Essa profissão é amplamente enxergada como um “cão do exército”, ou seja, um executor federal, alguém utilizado como uma arma. Ed recebe ordens diretas do Coronel Roy “Alquimista das Chamas” Mustang – que por sua vez recebeu ordens diretas do Führer Bradley, de capturar McDougal, mesmo que seja preciso matá-lo. Como um bom herói de princípios morais, Ed é contra matar, mesmo que esteja inserido num contexto militar e rodeado de pessoas que não compartilham de seu ideal, essa é forma que ele encontra para se manter fiel a sua moral.
Ed nunca está sozinho, ele está sempre acompanhado por uma gigantesca armadura, que é seu irmão mais novo, Alphonse Elric. A dupla é pouco usual, dois adolescentes que se colocam entre as camadas do exército para capturar criminosos enquanto saem brincando de alquimia? Não é bem por aí, claro, isso acontece, mas os irmãos não estão ali por uma mera força do acaso, eles têm um objetivo central, achar a Pedra Filosofal.
Tem um motivo para Ed ser o Alquimista de Aço, ele não tem o braço direito e nem a perna esquerda, ambos são próteses chamadas de automail, que são feitas de aço. Al pode ser muitas vezes confundido como o Alquimista de Aço por utilizar uma armadura daquelas, mas a verdade é que o garoto É a armadura. Conforme suas pesquisas, apenas o item mitológico conhecido como Pedra Filosofal teria poder suficiente para devolver seus corpos, sendo assim, a força motriz que guia os irmãos.
Na parte final do episódio, temos o flashback crucial para a história do anime, McDougal descobre que os irmãos Elric quebraram o maior tabu da alquimia, eles fizeram uma transmutação humana. Por mais que aqui não seja ainda dito, é a premissa base da obra, então não há motivos para esconder, anos antes do presente momento, a dupla tentou usar da alquimia para ressuscitar a própria mãe.
Contudo, o preço de algo assim era mais caro do que esperavam, Ed perdeu sua perna, enquanto o corpo inteiro de Alphonse é consumido pelo ritual. A experiência sequer deu certo, visto que não é possível trazer humanos de volta a vida, tudo que conseguiram foi uma forma de vida catastrófica e animalesca. Em meio ao caos e visão do inferno, Ed sacrifica seu braço na intenção de fixar a alma de seu irmão dentro da armadura.
De volta ao tempo presente, os irmãos Elric se deparam com o grande plano de McDougal, congelar o quartel-general da Cidade Central, buscando por um fim ao alto escalão do exército, em especial, o Führer Bradley. Para quem está reassistindo FMAB pela primeira vez, esse episódio tende a ser de explodir cabeças, visto que toda essa trama do McDougal é explorada no decorrer do anime, quando a gente sequer lembra mais do indivíduo. Outra coisa que faz sentido só mais para frente é a aparição de um certo preso chamado Solf J. “Alquimista Rubro” Kimblee, guarde esse nome, ele será fundamental.
Edward é por vezes fortemente questionado pelo seu inimigo, mas sua juventude, ingenuidade e cabeçadurisse lhe põem um lugar de questionamento só da boca para fora. Nos próximos episódios o garoto vai questionar até Deus em favor da alquimia, mas, ao mesmo tempo, não é um grande questionador do exército que comanda o país. Claro, ele não é bobo, sabe sua posição como subordinado, mas ainda lhe faltava muito conhecimento sobre o que sua classe é capaz. A diferença é grande entre a cabeça do jovem Ed e da grande maioria dos outros militares, seja o Coronel Mustang, seja a primeira tenente Hawkeye, um dos poucos que futuramente se mostraria diferente é o Major Alex Louis “Alquimista dos Braços Poderosos” Armstrong.
Nesse episódio ainda, somos apresentados a um dos mais queridos personagens da história dos animes (fato indubitável) o Tenente-Coronel Maes Hughes. O cara mais amável do universo, que não é apenas o último romântico, mas também o último paizão vivo, ele de prontidão convida os irmãos Elric para se hospedarem em sua casa, já que a dupla está apenas de passagem pela Cidade Central. Na residência conhecemos a família, sua esposa Gracia e sua filha, a pequena Elicia. O trio compõe a linda relação familiar presente na obra, enquanto as outras apresentadas são tão disfuncionais.
A situação e relação dos irmãos Elric é constantemente mostrada, mas nesse episódio tem seu ponto mais bonito na noite em que passam na casa dos Hughes. A condição de Alphonse não lhe permite comer, dormir ou até se cansar, o garoto sente falta de ser humano, de poder se sentir as coisas e de aproveitar as sensações. Durante a madrugada, presenciamos o primeiro momento de compaixão aos garotos, Maes Hughes conhece os horrores da guerra e do exército e lhe dói muito saber eles tinham passado e ao que estavam se submetendo mesmo com tão pouca idade.
No escalonamento do conflito, os círculos de transmutação são ativados e é iniciado o congelamento da cidade, mas os irmãos Elric continuam a tentar derrotar o Alquimista do Gelo. Mas quando este vê que a armadura de Al é vazia e tem uma runa de sangue, ele faz a ligação com a falta do braço de Ed entende o crime que cometeram. A descoberta leva o combate as vias de fato, a ponto de McDougal ser atingido gravemente, mas utilizar o próprio sangue para perfurar Ed.
O homem foge, mas sendo encontrado por quem ele mais queria derrubar, King Bradley. Na hora do mano a mano, McDougal na sua energia caótica contra a calma do Führer e a vitória é escapachante, o Alquimista do Gelo morreu. Com ele, se foi também a sonhada Pedra Filosofal, que estava possibilitando todo seu poderio.
Na presença dos irmãos Elric, o Führer retorna a sua persona habitual, descontraído e sorridente, elogiando o trabalho da dupla. Ao mesmo tempo, Mustang e Armstrong são capazes de destruir o último círculo de transmutação em tempo de impedir o congelamento do Quartel, “salvando o dia”. King Bradley dá os créditos do triunfo ao Coronel Mustang e ao Alquimista de Aço, mostrando toda sua benevolência aos subordinados. Agora Ed e Al vão continuar a jornada pela Pedra Filosofal, seguindo para a cidade de Liore. Localidade que coincidentemente se encontra uma macabra dupla que forneceu a pedra para McDougal.
Fullmetal Alchemist Brotherhood não têm o começo tão usual quanto se espera, mas é um episódio que se torna realmente recompensador para quem o reasiste. Pequenos detalhes que jamais seriam perceptivos aos novatos, agora ficam superexpostos para o espectador recorrente, gerando um grande sentimento de recompensa com a obra. Além é de nos preparar mais uma vez para embarcar nessa maravilhosa caminhada ao lado de Ed, Al e muitos outros.
SPOILER ZONE
No jantar na casa do Hughes, Ed solta
“Hoje eu vou comer por nós dois”
mal sabia que ele já se alimentava pelos dois há alguns bons anos.
Commentaires