Do luxo ao lixo e uma reviravolta triunfal: Uma resenha crítica sobre a trilogia “Um de nós”
- Fael Souza (Convidado)
- 30 de nov. de 2024
- 6 min de leitura

Tudo começou com uma detenção, continuou com jogos e mais jogos e terminou com uma vingança. A trilogia Um de Nós segue a história dos moradores da cidade de Bayview, Califórnia, mais especificamente um grupo de adolescentes que passam a desvendar mistérios em ordem de sobreviverem. Os livros, feitos pela escritora Karen M. McManus, tiveram muito sucesso com o público jovem e adolescente.
No primeiro livro, “Um de nós está mentindo”, vemos cinco adolescentes em uma sala de detenção no Colégio de Bayview: Addy, Nate, Bronwyn, Cooper e Simon. Após a morte de Simon na sala devido a um envenenamento, o quarteto é acusado de assassinato, além de descobrirem que seus segredos iriam ser expostos no aplicativo de fofocas que o Simon havia criado. Dessa forma eles seguem tentando desvendar o mistério de quem é o assassino enquanto guardam os próprios segredos de suas pessoas mais próximas, mas, em Bayview, parece que nenhum segredo está salvo.
Na sua continuação, “Um de nós é o próximo”, vemos um trio novo de adolescentes (e a volta breve do antigo quarteto também) tendo que desvendar quem é o número misterioso que está brincando de verdade e desafio com os alunos do colégio: Caso queira “verdade”, um segredo seu será revelado para todos (igualmente o aplicativo de Simon) e caso escolha “consequência”, terá que fazer algo escolhido pelo dono do tal número misterioso. Porém, o jogo se torna cada vez mais perigoso e revelador, e esse novo trio precisa voltar ao antigo caso do envenenamento do antigo dono do aplicativo de fofocas para desvendar quem está por trás desses planos.
Em “Um de nós está de volta”, último livro da trilogia, temos a volta de um dos principais vilões revelados no primeiro livro. Com a volta dele e o desaparecimento de alguns estudantes e ex-estudantes do Colégio de Bayview, os dois grupos agora precisam se unir para poder ganhar o último jogo feito e finalmente descobrir as mentiras que ainda estão sendo guardadas, para acabar (ou acabando) com o ciclo doentio dessa cidade que parece ser assombrada. A resenha dessa trilogia será sem spoilers, então não se preocupem com a leitura dela.
Um de nós está mentindo: “Há algumas coisas que você não pode desfazer, não importa quão boas sejam suas intenções.”
Esse primeiro livro traz primeiramente os clichês de qualquer ensino médio: Addy, a popular com namorado perfeito; Nate, o estranho que também já tem passagem na polícia; Cooper, o astro do beisebol que está prestes a ganhar uma bolsa de estudos; Bronwyn, a nerd que está com seu futuro 100% planejado e Simon, o perdedor que de início parece uma vítima, mas, na verdade, usa de estratégias para descobrir e arrancar segredos de todos do Colégio de Bayview e posta eles no aplicativo de fofocas criado pelo (des)querido falecido chamado Falando Nisso.

Reprodução/Rede Sociais
Os cinco pararam na detenção após usarem o celular na sala de aula, mas somente quatro saem de lá, pois Simon morre envenenado após beber um copo d’água. Após isso, os quatro se tornam os maiores suspeitos da morte dele, já que a polícia descobre que todos tinham segredos que o falecido ia publicar um dia depois da detenção deles. Com um alvo nas costas, nós seguimos vendo os pontos de vista de cada um enquanto eles investigam quem foi que matou Simon enquanto, ao mesmo tempo, guardam seus segredos para que isso não vá ao público (vulgo, aos seus colegas) e afete negativamente suas vidas.
A autora consegue aprofundar os personagens e faz eles saírem das próprias caixas que eles são colocados no começo da história, além de também nos instiga a querer descobrir quem é o real culpado e mostrar como a cidade e a internet agem durante esses momentos. O único problema que eu vejo no livro é seu rítmo que pode ser muito devagar para quem espera bastante investigação, já que paramos muito para evoluir o desenvolvimento dos personagens e ver como eles reagem ao virarem estrelas de um assassinato. Apesar de tudo, o livro é uma ótima leitura e ótimo para quem não é muito chegado ao gênero de mistério/investigação.
Um de nós é o próximo: “Mas não se pode mudar o passado, sabe? Tudo que se pode fazer é se esforçar mais da próxima vez.”
No segundo livro, deixamos o quarteto do último livro e conhecemos o nosso trio de protagonistas: Maeve, irmã mais nova da Bronwyn que também aparece no primeiro livro, apesar de não ser uma das protagonistas no mesmo, ela é uma garota confiante e também uma ótima hacker; Knox, melhor amigo e ex namorado da Maeve, um garoto inseguro de si, mas sempre leal a suas amizades (ou quase sempre); Phoebe, uma garota que quase vive o estereótipo de menina malvada e tem claros problemas de relacionamento com sua irmã.

Divulgação
Após os eventos do primeiro livro, Bayview volta ao jogo de mentiras reveladas quando aparece um número misterioso nos celulares de todos os estudantes, perguntando se eles queriam jogar um novo jogo. As regras são simples: se a pessoa escolher “consequência” ela precisa fazer algo pedido por esse tal número, mas caso ela escolha “verdade” um segredo íntimo da pessoa é revelado. A trama segue com o nosso trio tendo que lidar com verdades sendo reveladas e com uma morte que acontece quando uma das pessoas é desafiada pelo número e morre no processo.
Esse livro acaba sendo decepcionante no seu quesito principal: mistério e investigação. Mesmo com todos os spoilers sobre os personagens, você mal sabe quem está por trás do assassinato e das mensagens, pois o livro dá voltas de investigações que não dão em nada. Outro ponto negativo é o quarteto do último livro que vive um estereótipo deles mesmos (apesar de terem sido desenvolvidos no último livro), parece que eles são esquecidos para poder dar apoio ao novo trio, porém isso mais atrapalha do que ajuda. Além disso, a personalidade da Phoebe pode desagradar muitos leitores, já que ela parece não querer evoluir durante maior parte do livro (e até chegar o final ela nem tem seu desenvolvimento completo até o fim do livro). Apesar de suas decepções, o segundo livro consegue se manter por causa da Maeve e do Knox, que trazem grande parte da emoção e tem um belo desenvolvimento da história, mas tirando isso o livro decepciona e acaba não inovando muito já que se usa do legado que Simon deixou e não tenta ser mais ousado no seu novo mistério.
Um de nós está de volta: “Hora de um novo jogo, Bayview!”

Divulgação
O último livro da trilogia, ele podia ser um dos melhores livros ou uma tragédia como o segundo, ainda bem que ele foi a primeira opção. O trio e o quarteto se uniram após os últimos acontecimentos que atingiram a azarada cidade de Bayview. No entanto, as coisas pioram antes de melhorar e eles partem para mais uma investigação, depois do criminoso do primeiro livro estar de volta para a cidade e tendo a chance de sair em liberdade ao mesmo tempo que acontecem desaparecimentos de algumas pessoas envolvidas nos últimos ocorridos do Colégio de Bayview.
O livro consegue ser a versão melhorada do primeiro da trilogia e também aproveita o que foi usado no segundo livro. Ele traz uma sensação de despedida enquanto temos uma sensação de perigo iminente quando as pessoas estão desaparecendo. Karen M. McManus cria uma ótima atmosfera durante todo o livro, além de fechar pontas soltas e revelar mais segredos (que achávamos que acabariam) sobre alguns velhos personagens.
Claro que existem algumas pequenas ressalvas, porém o livro em si beira a perfeição. O mistério é envolvente e mais instigante que o primeiro livro, os desenvolvimentos de cada personagem são ótimos (até a Phoebe tem seu momento de deixar de ser uma personagem sem evolução!) e seu fechamento nos deixa feliz que finalmente a cidade de Bayview abandona sua maldição de fofocas e toxicidade de seus moradores.
Veredito
Como dito anteriormente, os livros são uma ótima pedida para quem nunca embarcou no gênero de mistério e quem gosta de uma leitura mais leve. Apesar de nem tudo ser perfeito, a trilogia faz a gente se conectar com cada protagonista com o passar do tempo. Com o seu desfecho trazendo uma sensação de paz e realização após o fim de todo o mistério e todos os segredos. Eu amei essa série e indico para todos lerem (apesar de meu desgosto com o segundo livro, recomendo lerem também), pois nessa leitura você descobre que nem todos os segredos ficam escondidos.