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Cyberpunk 2077 I O sonho, o fracasso e o clássico


Cyberpunk 2077

O Sonho


Em 2013, o estúdio polonês praticamente independente na época, CD Projekt Red, lançou o trailer de anúncio de Cyberpunk 2077. Com imagens conceituais, o objetivo era atrair investidores para o projeto. Naquele momento, nada do jogo havia sido preparado, e o anúncio de um estúdio que só havia lançado adaptações pouco comentadas de um livro de fantasia medieval polonês, The Witcher, não chamou muita atenção.


O livro era pouco conhecido fora de nichos específicos. Talvez apenas os fãs mais hardcore de RPG já admirassem The Witcher, mas a obra passava longe do meu radar naquela época. A situação começou a mudar com os trailers de The Witcher 3, apresentados em cada E3 de 2013 e 2014, quando o evento ainda parava praticamente todos os que tinham interesse em videogames. Gráficos impressionantes e um nível de liberdade nunca antes visto foram suficientes para o estúdio ganhar atenção gradual até o lançamento de The Witcher 3.


Este é um jogo que sequer precisa de apresentação, pois se tornou um fenômeno que mudou para sempre a indústria, com sua complexidade narrativa e amplas possibilidades. Foi o título que finalmente convenceu muitos a abandonarem seus consoles PS3 e Xbox 360 em favor da nova geração.


Após o lançamento, quase que imediatamente, todas as atenções se voltaram para a competência do estúdio CD Projekt Red, antes desconhecido, que entregou um produto de altíssima qualidade, com conteúdo extra gratuito, suporte imenso aos jogadores e uma preocupação em localizar o jogo para o maior número possível de regiões. Em 2015, apenas os maiores lançamentos ofereciam legendas em português, mas The Witcher 3, com milhares de linhas de diálogo, trouxe dublagem completa e bem localizada em português do Brasil, o que gerou uma sensação de carinho e cuidado em uma indústria que já começava a reclamar de microtransações, DLCs e jogos lançados incompletos.


Cyberpunk 2077

Com The Witcher 3 concluído, o pensamento que surgia era: o que vem a seguir? O trailer de Cyberpunk 2077 começava a ganhar relevância, e após o lançamento das altamente elogiadas expansões de The Witcher, o estúdio anunciou que mergulharia de cabeça em um projeto ambicioso, com um orçamento aparentemente ilimitado.


O marketing? Absurdo. Cyberpunk 2077 já era um sucesso antes mesmo de ser lançado, e cada anúncio parava a internet. O momento que mais simboliza isso foi a apresentação de Keanu Reeves no elenco do jogo, com o público da E3 ovacionando o ator, que se empolgou ao dizer: "Vocês são de tirar o fôlego" (pode inserir o vídeo ou a fala abaixo). Mas o grande problema era: quando o jogo seria lançado?


Cyberpunk 2077 sofria adiamentos constantes, e as piadas de que o jogo só sairia de fato em 2077 se tornaram das mais comuns na internet. Ainda assim, a promessa de que só seria lançado "quando estivesse pronto" e a confiança conquistada com o projeto anterior foram suficientes para grande parte do público fazer a pré-compra, acreditando que um estúdio que havia lançado um jogo incrível não erraria novamente. Quem duvidava, incluindo eu, estava preparado para ser criticado.


O Fracasso


No dia 10 de dezembro de 2020, no auge de uma pandemia global, Cyberpunk 2077 foi finalmente lançado. Eu já tinha comprado o jogo com mais de um mês de antecedência e estava pronto para que ele consumisse minha mente durante aquele período infernal. A possibilidade de não ser um clássico parecia impossível. Quando o jogo abriu no meu PC, após uma customização complexa do personagem, o que encontrei foi uma performance horrível.


Depois vieram os bugs, seguidos por um sistema de combate desinteressante, mais bugs, e um mundo que não conseguia me imergir. A internet inteira já tinha aceitado: o fracasso, que ninguém imaginava, havia acontecido. Sim, a história era boa, mas isso não era suficiente para sustentar um jogo em que tudo o mais era monótono e irritante. A jogabilidade se apoiava em um sistema de loot que talvez funcionasse em Borderlands, mas não aqui, e o mundo estava vazio, com poucas quests e interações resumidas a eliminar todos os inimigos de uma área.


Cyberpunk 2077

Apesar de tantos adiamentos, Cyberpunk 2077 foi lançado sem estar pronto. O que tínhamos em mãos parecia uma versão alpha. A imagem da CD Projekt Red foi manchada de uma forma que permanece até hoje. Temendo processos, o estúdio ofereceu reembolsos gerais do jogo. No PlayStation, a performance era tão ruim que a Sony retirou o título da loja.


Não se tratava apenas de um jogo "ruim", mas de um produto estragado, da mesma forma que nos indignamos quando nos oferecem comida estragada em um restaurante – tirando, claro, o fato de que jogos não afetam nossa saúde. No ano seguinte, cópias de Cyberpunk 2077 podiam ser encontradas por R$ 40 nas lojas, lembrando que o preço de lançamento foi R$ 250.


O sonho de confiar cegamente em uma empresa terminou, com um choque de realidade. Lentamente, o estúdio tentou consertar o jogo, e ele voltou a ser vendido no PlayStation. Porém, a sensação era de que, embora os bugs e problemas de performance pudessem ser corrigidos, o jogo nunca seria a sombra do sonho prometido.


O Clássico


Em 2022, o anime Cyberpunk: Edgerunners foi lançado. Mesmo sendo uma mídia fora do jogo, foi o suficiente para começar a mudar a percepção. Após o lançamento da belíssima animação (e, se você não viu, faça um favor a si mesmo e veja), muitos que nunca tinham jogado se interessaram pela obra. Longe do sentimento de mágoa, raiva e decepção, perceberam algo: o jogo, embora não fosse um clássico, tinha valor. Ele agora funcionava, e muitos aspectos eram ótimos.


A base de jogadores na Steam cresceu até seis vezes, e o título começou a aparecer entre os mais jogados da plataforma, algo inesperado para um "fracasso esquecido". No entanto, os jogadores mais ressentidos, como eu, ainda não se importavam em ver uma animação de um estúdio que nos havia "traído".


A situação mudou definitivamente com o lançamento da expansão Phantom Liberty e a atualização 2.0. O update reimaginou diversos aspectos que não funcionaram no jogo original, eliminando o terrível sistema de loot e a evolução de habilidades sem sentido. Agora, o jogo finalmente permitia que você moldasse seu personagem conforme seu estilo.


Cyberpunk 2077

Queria ser um tanque de guerra como David de Edgerunners, repleto de tecnologia e fúria? Você podia. Um ninja ágil com uma katana, movendo-se de forma quase surreal? Sim. Um soldado tecnológico ao estilo Call of Duty? Também. Um hacker capaz de destruir esquadrões sem nem entrar fisicamente em uma sala? Isso também. A filosofia de RPG finalmente se aplicava à jogabilidade, e, combinando isso com um jogo funcional, uma história envolvente e uma ambientação fantástica, você tinha uma das melhores experiências de todos os tempos.


Depois de três anos de seu lançamento original, o estúdio fez um esforço incrível, e o jogo dos sonhos finalmente foi lançado. Obviamente, ressalvas ainda devem ser feitas: essa atualização não saiu para a geração passada de PS4 e Xbox One, sendo essa a maior crítica, já que o jogo havia sido prometido para esses consoles.


A confiança quebrada retornou como uma traição: os cacos foram colados, mas as fissuras ainda são visíveis. Se você não jogou Cyberpunk 2077 antes, agora pode ser uma das melhores experiências que terá com videogames, e o futuro da CD Projekt Red pode voltar a ser promissor.


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