Crítica | Wish: Um guia de como (não) fazer algo especial
- Vinícius Nocera
- 26 de dez. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 8 de jun. de 2024

A Disney, a gigante do entretenimento, estava completando cem anos de sua fundação este ano. Por conta desse número especial, ela decidiu fazer um filme que celebrasse essa jornada de muitos anos que a consagraram como a maior empresa no ramo da animação do mundo. Porém, uma ideia que parecia interessante no papel mostrou-se totalmente diferente, na prática, quando a companhia do Mickey decidiu tomar as piores decisões possíveis para a criação do projeto.
Em Wish, acompanhamos Asha, uma garota que vive em um reino supostamente perfeito, em que todos os habitantes podem compartilhar um sonho com um rei que tem poderes mágicos na esperança que ele os realize. Depois de reviravoltas mirabolantes, a protagonista depende da ajuda de uma estrela para salvar seu reino e seus amigos do mau absoluto.
A sinopse extremamente genérica e sem sal não foi intencional. O filme realmente é péssimo, porém, nessa crítica vou explicar o que deu de tão errado na minha opinião. Portanto, por que é tão ruim?
O suco do genérico com direito a gelo

Foto: Divulgação/Disney
De início, a ideia aplicada no filme em si já é um desastre. A Disney surgiu como uma empresa de animação 2D, em que seus quadros eram feitos à mão. Com o avanço da tecnologia, eles resolveram mudar para o 3D digital, decisão que muitos fãs não gostaram por causa da diferença entre a identidade artística do 2D e o foco extremo no realismo apresentado pelo 3D. Por isso, era esperado que a empresa fizesse algo diferente, com um 2D que resgatasse a nostalgia das animações antigas, ou então um 3D que pelo menos fosse bonito e polido. Porém, parece que em Wish eles não souberam se decidir, fazendo um misto entre estilos, o que acaba gerando muitas vezes um estranhamento estético.
Além disso, o filme é muito feio. Como 3D, ele parece ultrapassado, e como 2D, ele parece extremamente sem identidade e alma. As cenas animadas são estranhas de se assistir, e o tempo todo o espectador fica com a impressão que foi tudo feito de forma corrida na produção.
A suposta homenagem que a empresa planejava se bastou em simples easter-eggs ou detalhes idiotas, como referências às roupas de personagens de outros filmes da Disney. Por causa disso, a obra não tem coragem de sequer criar personagens interessantes para si, em que todos parecem apenas paródias de personagens de outras produções do estúdio. Além de mal escritos, a grande maioria do elenco não tem carisma algum, chegando ao ponto de que, diferente de outros casos em que o espectador pelo menos torce para o vilão, aqui você só torce para os créditos chegarem logo.
Wish: Uma mera paródia de si mesmo
Uma palavra que pode resumir o filme inteiro é desinteresse. Mesmo se os personagens fossem ruins como são, a história ainda poderia ser interessante, né? Mas não é.
O mais bizarro é que Wish parece ser uma colcha de retalhos de outros filmes da Disney, e não de uma forma orgânica. Parece que eles pensaram em pegar um elemento de uma obra, copiar e colar, e assim por diante. Por exemplo, a trama parece muito uma mistura de Encanto com Frozen, só que muito pior, pois não incorpora as virtudes desses filmes.
Em vez de ser uma homenagem aos trabalhos mais renomados do estúdio, o longa dá a impressão de ser uma paródia das últimas animações famosas da Disney (nem para ser das mais icônicas). Me lembrou muito os filmes da empresa brasileira Vídeo Brinquedo, responsável por BANGERS como Os Carrinhos ou Ratatoing.

Foto: Divulgação/Prime Video
A Disney não está nem aí
Mesmo com tudo já descrito, o filme parece não ter pretensão de ser algo grande desde o início. Para um filme que deveria ser tão importante para a empresa, eles resolvem trazer Chris Buck, que trabalhou para a Disney apenas em Tarzan e nos filmes de Frozen, e para mim o mais inacreditável, Fawn Veerasunthorn, que é uma diretora estreante.
Um estúdio trazer um diretor estreante para seu centésimo aniversário é de uma falta de interesse tremenda, com tantos diretores experientes e talentosos que já trabalharam para eles e que poderiam retornar, eles escolherem apostar em alguém pouco experiente justamente agora é bizarro. Nada contra diretores estreantes, muito pelo contrário, eu acho sempre bom revitalizar os ares com novas visões artísticas, mas nesse caso parece ser muito mais por descaso com o longa para um melhor direcionamento dos investimentos do filme, que custou cerca de 200 milhões de dólares para ser feito, valor que não parece ser revertido para a experiência na tela.
No geral, isso não acontece só com os diretores. Os roteiristas, produtores e compositor também tem uma bagagem pouco diversa. A equipe de produção pouco experiente para um projeto tão importante explica em parte os problemas até aqui. Entretanto, o que me deixa mais incrédulo é que a Disney já fez algo incrível de homenagem para si mesma no passado, e com muito mais coragem, em uma época que não fora supostamente tão especial como agora.
2023 vs 1940
Em 1940, a Disney realizou o seu filme Fantasia, que é um deslumbre visual e estético. O longa é extremamente experimental e brinca com diversos elementos do audiovisual, como orquestras, uma mistura de animação com live action e diversas referências orgânicas com muitos movimentos da história. Independente de tudo, é um filme com muita personalidade e um dos maiores triunfos estéticos da Disney. Em comparação com isso, é bizarro como esse mesmo estúdio fez Wish, que é tudo menos corajoso. O longa consegue errar até nas músicas, que são ruins e genéricas, algo que eu nunca tinha visto essa empresa fazer mal feito em um filme até agora.
O Veredito
Wish é o pior filme da Disney que eu já vi. Eu acho desrespeitoso a falta de interesse da Disney com uma data tão importante tanto para si, como para seus fãs, que receberam uma animação extremamente genérica e sem nenhum aspecto que eu consiga sequer dizer que é decente. Tiveram outras animações da empresa que eu não gostei, mas eu nunca fiquei sem ter pelo menos uma coisa boa para apontar de um filme da empresa. É uma pena o rumo que as coisas estão indo nos últimos anos para a Disney, que presenteia dessa vez os seus fãs, no seu aniversário de cem anos, com um presente de grego.
Nota: 0,5/5
Comments