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CRÍTICA | Robô Selvagem é um caloroso abraço materno

Atualizado: 11 de out. de 2024

Reprodução/Universal Pictures

Ano após ano a DreamWorks continua sendo esse grande estúdio conhecido pela indefinição e a incrível capacidade de fazer filmes 8 ou 80. Visto que, ao mesmo tempo que eles lançam “Poderoso e Chefinho 2”, “Trolls 3” e “Kung Fu Panda 4”, eles também nos presenteiam com “Os Caras Malvados”, “Gato de Botas 2: O Último Pedido” e agora, com o belíssimo “Robô Selvagem”.


Essa obra não é apenas um dos melhores lançamentos do estúdio em anos recentes, mas possivelmente em toda sua história. Baseado na série de livros homônima, escrita por Peter Brown, a adaptação com certeza gera o merecido interesse para o material base, além de possibilitar muito pano para manga em possíveis sequências caso este seja não só um sucesso de crítica (o que já é), mas também de público.


O diretor Chris Sanders não é nenhum novato. Ele trabalhou em clássicos da renascença da Disney nos anos 90, como A Bela e a Fera, “O Rei Leão”, “Aladdin” e “Mulan”. Em seguida, junto a Dean DeBlois, dirigiu os excelentes “Lilo & Stitch” e “Como Treinar Seu Dragão”, depois ele até se aventurou no live-action em “O Chamado da Floresta”. Mas é em “Robô Selvagem” que ele faz sua estreia como diretor solo em animações, e que estreia fantástica.

Reprodução/Universal Pictures

No filme, somos apresentados a unidade ROZZUM 7134, ou apenas “Roz”, uma robô construída para sempre auxiliar os humanos nas tarefas e dificuldades diárias. Contudo, a personagem encontra-se encalhada em uma praia e sem nenhuma ideia do que teria acontecido para que ela fosse parar naquele local. A praia, na realidade, era uma ilha, habitada inteiramente por animais, um espaço, até então, intocado por humanos e máquinas. Após a robô passar por diversas dificuldades ao tentar emitir contato com seus criadores e não conseguir se conectar com a natureza, ela inicia um modo de segurança e aprendizagem, observando a vida ao redor e emergindo dias depois fluente em todas as línguas animais.


É a partir desse novo aprendizado de Roz, que ela inicia sua verdadeira jornada, cuidar de um ovo de ganso, cuja família foi acidentalmente destruída pela robô. Esse ovo logo se choca e ela passa a cuidar do pequeno “Bico-Vivo”. Mas ela não está sozinha nesse processo, a raposa “Astuto” inicialmente pode ter entrado em conflito com a dupla, mas logo se torna um grande aliado dos dois. Para as diretrizes e codificação de Roz, é complexo entender o que significa criar um ser vivo, mas ela consegue estabelecer uma série de missões em que irá auxiliar o ganso crescer antes que precise migrar no inverno. Criando, assim, uma relação maternal entre eles.


Este enredo pode não parecer tão diferenciado, ou até mesmo super mirabolante, e realmente não é, mas quem disse que precisava ser? Robô Selvagem não tem a intenção de ser super complexo, mas sim contar uma bela história por uma ótica pouco convencional. A forma que Roz enxerga esse universo é inicialmente quadrada e metódica, de forma que Bico-Vivo também se torna um ganso nada convencional. E a partir disso, acompanhamos de perto o desenvolvimento não só desse animal, mas dessa máquina, que em teoria jamais conseguiria ultrapassar a programação e quem sabe, ter sentimentos.

Reprodução/Universal Pictures

Por mais que a história desenvolvida nessa obra seja encantadora e apaixonante, talvez sua maior beleza, seja o visual, e QUE VISUAL! A animação desse filme é inacreditável, um uso sublime das cores, uma movimentação impressionante, tudo realmente estonteante. Nas palavras do próprio diretor, o filme seria “uma pintura de Monet em uma floresta de Miyazaki”, uma descrição super precisa, eu diria. Logo na primeira cena, o espectador já fica boquiaberto com a água e ondas do mar, na realidade, todos os ambientes se destacam, floresta, fogo e até a neve ficam lindíssimos pelas lentes de “Robô Selvagem”.


O longa representa o fim de uma era para a Dreamworks, visto que esse foi o último filme inteiramente animado nos estúdios em Glendale, na Califórnia, visto que os próximos projetos serão trabalhos em conjunto entre bases da empresa em outros lugares. Além disso, “Robô Selvagem” busca seguir em um estilo de animação que conversa com outros projetos recentes do estúdio, nesse caso “Os Caras Malvados” e “Gato de Botas 2: O Último Pedido”, que vão na contramão do fotorrealismo, visando um aspecto que lembre pinturas em movimento com tons de aquarela.

Reprodução/Universal Pictures

Sobre as vozes brasileiras do filme, só elogios para o trabalho fantástico de Elina de Souza como Roz, um mix incrível da seriedade e inflexibilidade de uma robô, mas com os crescentes traços de sensibilidade e de fato, humanidade na personagem, composição perfeita. Rodrigo Lombardi como Astuto entra para a cada vez maior lista de ótimos trabalhos de dublagem do ator, que já contava com o Príncipe Naveen de “A Princesa e o Sapo”, Drago Sanguebravo de “Como Treinar Seu Dragão 2” e Nick Wilde de “Zootopia”. O Gabriel Leone acaba destoando um pouco dos outros dois, não é de forma alguma ruim, mas ainda tem um bom caminho para percorrer nesse campo artístico.


A fotografia é mais um grande trabalho de Chris Stover, que segue o brilhantismo na sequência do Gato de Botas, muitas cenas são dignas de enquadrar e por em um mural. Enquanto isso, a trilha sonora de Kris Bowers é completamente encantadora, imergindo o público sem apelação e com extrema delicadeza. O filme ainda conta com duas canções originais, performadas pela cantora americana Maren Morris, que podem ser até boas músicas, mas acabaram não sendo muito bem encaixadas com os momentos.

Reprodução/Universal Pictures

Mesmo que o enredo seja muito fofo, tenha interações e construções belíssimas, o filme tem o seu momento mais perdido, tentando encaixar críticas ao mundo corporativo e as big-techs. O que desvia o foco desse mundo idílico, sem acrescentar tanto mais, chegando apenas como uma nova forma de empecilhos e possibilitando desdobramentos para uma finalização dessa trama. Mas de qualquer forma, ainda é algo gera uma grande cena de ação e comunhão sobre tudo tratado até aquele momento no lado das relações.


No geral, "Robô Selvagem" se consolida como uma das grandes animações de 2024 e pode fazer frente a "Divertida Mente 2" na temporada de premiações. Mas tudo isso só se faz possível pela forma que a história é construída. Mostrando que mesmo no contexto de uma robô, uma inteligência artificial, que teoricamente não deveria conseguir criar elos e conexões tão profundas, é mudada a partir de uma ótica materna. Roz se torna uma figura que ultrapassa barreiras e os próprios limites para proteger e possibilitar um futuro para seu pequeno Bico-Vivo.


Nota: 4,5/5



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