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CRÍTICA | Os Rejeitados é o sabor natalino no Oscar

Atualizado: 8 de jun. de 2024




Continuando a maratona dos indicados ao Oscar 2024, vamos com um dos principais filmes do ano, Os Rejeitados, dirigido pelo ilustre Alexander Payne. Na premiação, o longa recebeu um total de 5 indicações, Melhor Filme, Melhor Ator (Paul Giamatti), Melhor Edição (Kevin Tent), Melhor Atriz Coadjuvante (Da'Vine Joy Randolph) e Melhor Roteiro Original (David Hemingson). Nas três primeiras a concorrência está acirrada, existe muita competição, mas é difícil a vitória, nas duas últimas, são altas as chances de prêmio, Randolph é favoritíssima a estatueta.  


Paul Hunham (Paul Giamatti) é um rigoroso professor da matéria de Civilizações Antigas (comumente trocada com História) no prestigiado internato Barton, na região da Nova Inglaterra, na costa leste americana. Durante a época do Natal de 1970, Paul é o professor encarregado de continuar na instituição durante as férias, para supervisionar alguns alunos que não tiveram como retornar às suas casas e irão passar o período no colégio. Um destes estudantes é Angus Tully (Dominic Sessa), um inteligente, porém, muito rebelde jovem, que esperava passar o descanso no Caribe, e para seu desgosto estará preso numa escola coberta de neve com o professor mais casca grossa possível.


Em meio ao professor e o aluno, mais uma pessoa teve que ficar para o Natal, Mary Lamb (Da’Vine Joy Randolph) é a líder da cozinha da instituição e recentemente perdeu o seu filho, que foi morto em combate durante a Guerra do Vietnã. Esses três são as figuras fundamentais do longa, os personagens pelos quais somos guiados, que criamos laços e que são extensivamente desenvolvidos, pois o filme tem o seu foco nos diálogos e relações entre eles. Temos uma obra que definitivamente não termina como começou, acompanhamos um grande desenvolvimento e diferentes facetas de seus protagonistas, cada um ganha seu tempo e diversos momentos para brilhar, criando uma belíssima composição ao espectador.


Os três protagonistas de "Os Rejeitados" ceiando juntos durante o Natal
Reprodução: Focus Features

Os Rejeitados pode ser definido como a mistura de dois filmes clássicos e muitíssimo amados, Sociedade dos Poetas Mortos e Esqueceram de Mim. Pensando por alto sobre ambas obras é difícil achar semelhanças ou um meio termo, mas ele definitivamente existe e está presente neste longa. Do primeiro, é possível estabelecer o grau óbvio da comparação de que os dois se passam em prestigiadas escolas preparatórias e trazem a conexão e formatação de uma relação aluno e professor, onde um ajuda o outro a crescer. O segundo é visível ao fato que ambos se tratam de um jovem que foi deixado para trás na época do ano em que a união familiar é o foco, o contraste de sentimentos entre liberdade e abandono que constroem seus desenvolvimentos.


Dono de dois Oscar’s de Melhor Roteiro Adaptado (Sideways: Entre Umas e Outras & Os Descendentes), Alexander Payne dirige seu oitavo longa metragem em Os Rejeitados. A tônica de seus filmes sempre foi envolta dos diálogos e desenvolvimento dos personagens, algo que sempre foi muito refletido quando os roteiros eram de sua autoria, contudo, tanto neste filme, quanto no seu sucesso crítico de 2013, Nebraska, Payne não assina o texto. Assim, seu trabalho na direção acaba sendo evidenciado, e aqui é possível fazer uma comparação direta com um de seus primeiros filmes, Eleição (1999). Ambos abordam uma relação cada vez mais próxima entre um professor e um estudante, mas os rumos tomados são completamente antagônicos, dessa vez ele não opta pelo sádico conflito, mas pela ternura natalina.


Falando em Natal, é impossível não levar este grande fator em consideração, Os Rejeitados é definitivamente um filme natalino, e dos bons. Em um momento em os longas que comemoram essa data se tornam cada vez mais formulaicos, se tornando um grande pastiche do que um dia já foi esse subgênero, Alexander Payne entrega algo para entrar na lista de filmes para se assistir ao fim do ano junto aos entes queridos. A obra se leva a sério e não precisa ficar lembrando o espectador a todo tempo de que se trata desse momento especial, este é o pano de fundo, é o motivador da história, sendo parte fundamental dela e é bem utilizado pelo roteiro e direção. 


Dominic Sessa e Paul Giamatti em Os Rejeitados
Reprodução: Focus Features

Por mais que possamos elogiar diversas valências do filme, como sua direção, roteiro e aspectos técnicos, o grande êxito é o mais fácil de notar, seu espetacular elenco. Mesmo tendo sido indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 2006, Paul Giamatti ainda não havia sido agraciado com um aclamado papel de protagonista, o que finalmente aconteceu em Os Rejeitados. Paul ganha espaço para trabalhar um homem retraído e com personalidade difícil, que aos olhos dos alunos é o um grande déspota, enquanto para seus pares ele não passa de um homem com péssimas habilidades sociais, gerando até pena. Sua caracterização ajuda demais na construção desse professor pouco amigável, mas que ao longo do filme ganha contornos emotivos e reais de um alguém que tem bem mais para oferecer do que realmente aparenta.


Da’Vine Joy Randolph é uma atriz que já está na indústria há mais de uma década e que até então não havia recebido papéis de muita relevância, filmes pequenos, participações pequenas que estavam limitando seu talento. Em Os Rejeitados, Da’Vine entrega uma personagem complexa, alguém que está passando por uma dor inimaginável durante o momento mais familiar do ano. Mary Lamb é uma mulher que vê diariamente o preconceito dos jovens alunos brancos e ricos, eles são racistas e elitistas e consideram isso como a coisa mais normal do mundo, tratando-a como uma mera servente. Randolph consegue passear pelas diversas nuances de Mary, dos momentos de explosão, de luto e também da aceitação.


Dominic Sessa faz aqui sua estreia como ator e por meio de Angus Tully mostra toda a sua capacidade e talento. Fazer seu primeiro filme e estar em par com duas atuações tão fenomenais como de Giamatti e Randolph não é para poucos e Sessa mostra que é um desses poucos. Angus é um rapaz muito complicado, facilmente se estressa, busca confusão e parte em cima dos outros para brigar, esse é o lado que os outros recebem do jovem, enquanto internamente ele ainda é um menino que sente falta de sua família. Angus é alguém que está passando por um momento crítico, uma pessoa que busca mudar e melhorar mas que é assombrado pelo seu passado. Ser capaz de transmitir essas emoções de forma convincente e ainda ter espaço para mostrar-se como um garoto irreverente e sonhador é uma grande conquista na atuação do estreante ator.


Os Rejeitados é o sabor natalino no Oscar 2024, um filme que mostra as possibilidades que ainda existem nesse subgênero, basta querer se empenhar numa história que trata seus personagens e universo com a dignidade que merecem, não apenas por “Natal” no título, nos cenários e esperar o sucesso com o público. Alexander Payne é um realizador experiente, que tem a noção de como trabalhar suas criações e envolver os espectadores, transformando esse filme em algo realmente aconchegante e amável, é sempre bom assistir uma obra que se trata de forma tão palpável.


Nota: 4,5/5



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