CRÍTICA | Oeste Outra Vez: A Crise da Masculinidade e o Western Pós-Moderno
- Vinícius Nocera
- há 2 dias
- 2 min de leitura

No final de março, após anos de produção e muitos outros de pós-produção, chegou aos cinemas brasileiros Oeste Outra Vez. O longa dirigido por Erico Rassi retrata uma grande rivalidade masculina entre Toto (Ângelo Antonio) e Durval (Babu Santana), para ver qual dos dois consegue possuir uma mulher, que é ex de Toto e atual namorada de Durval.
Possuir é a palavra certa para definir essa relação, pois é um filme que as subjetividades dessa mulher são jogadas de escanteio e o foco é o conflito desses homens. O enquadramento do filme é totalmente nessa ideia de masculinidade enraizada no homem do interior, e a forma como isso afeta ele e todas as suas relações.
Dá até para dizer que é um western em essência não porque tem muitas cenas de tiro e perseguição em uma região interiorana do oeste, mas sim porque os personagens do filme só conseguem resolver suas diferenças de uma forma: na base da violência.
Clint Eastwood renasceu e ele é brasileiro
De cara, o que mais me impressionou no filme é a sua beleza imagética. O filme é lindo o tempo todo. Rassi escolhe planos que além de serem deslumbrantes, comunicam muita coisa, o que se torna essencial quando o filme decide economizar nos diálogos para deixar as imagens falarem por si.

Me senti assistindo um filme do Clint Eastwood, em que é possível perceber uma genialidade em planos clássicos. Planos que utilizam tudo que está na tela, como se fossem pinturas em movimento. E Erico Rassi faz isso, mas sem nunca perder seu traço autoral, sua identidade.
O cenário é muito vivo. O ambiente serve para amplificar as angústias dos personagens, e a forma como eles são enquadrados no plano de fundo é de uma sensibilidade absurda.
O macho e o pós-moderno
Se em um filme como “O Dragão da Maldade e o Santo Guerreiro”, Glauber Rocha estabelece a sociedade dos cangaceiros como uma ideia em decadência por conta da proliferação do capitalismo desenfreado e da globalização, Erico Rassi decide ir por outra vertente em sua ideia de decadência com os pistoleiros.
Em cenários que nos westerns clássicos a troca de tiros seriam épicas e cheias de testosterona, Oeste Outra Vez opta por uma abordagem pós-moderna para o western.

Um “velho oeste” com celulares, mas sem Internet. A capacidade de revisitar o passado, mas sem ter um futuro para onde ir.
Assim como os homens do filme. Que são gentis uns com os outros, mas violentos sempre que o assunto é sobre suas companheiras, antigas ou atuais. Uma ideia de fatalismo, em que só foram ensinados a ser assim e não existe nenhuma perspectiva de futuro. Ou será que existe?
Veredito
Oeste Outra Vez faz um trabalho espetacular ao trazer o velho oeste brasileiro em uma perspectiva atual e pós-moderna, além de, na sua própria forma, trazer elementos característicos de um Western.
É um filme sensível e cheio de delicadezas, que propõe a partir de suas imagens uma jornada fantástica, filmada como se o longa fosse uma pintura em movimento.
Nota: 5/5 🤠
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