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CRÍTICA | “O Assassino”: Intimista, mas nem tanto

Atualizado: 8 de jun. de 2024


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Com a concorrência de diversos streamings no mercado, a Netflix continua a investir pesado em seu catálogo original. Dessa vez, traz o célebre diretor David Fincher (Clube da Luta, Se7en) para um thriller intimista. A história acompanha a rotina diária de um assassino profissional extremamente frio e calculista em um de seus trabalhos em busca de finalizar seu alvo, até que algo dá errado durante o seu serviço e ele precisa se virar com os imprevistos e problemas causados pelo seu erro. Mas será que é bom?


A história é baseada na série de HQs francesa “Le Teuer”, escrita por Alexis Nolent (pseudônimo Matz), com ilustrações de Luc Jacamon. O filme conta um elenco interessante, tendo como protagonista o indicado ao Oscar Michael Fassbender (Steve Jobs, 12 anos de escravidão), além de nomes como Tilda Swinton (Precisamos falar sobre o Kevin, As crônicas de Nárnia).


Estética e ambientação


É impossível falar sobre “O Assassino” sem antes citar possivelmente sua maior inspiração estética. O filme é inspirado fortemente no filme francês “O Samurai”, filme de 1967 dirigido por Jean-Pierre Melville, fato que o próprio diretor reconheceu em uma entrevista para o Letterboxd.


O filme diverge de sua inspiração ao exibir os pensamentos do protagonista frequentemente. Em especial, na primeira parte do filme que é composta de um voice-over do Michael Fassbender com frases bem cringes e niilistas sobre o mundo, trecho extremamente chato de assistir.


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Foto: Divulgação/ Netflix


Um dos grandes problemas do filme é o seu conflito estético. O início cheio de frases longas, que levam dolorosos minutos para acabar fazem parecer que vai ser mais um filme em que os incels vão olhar para o protagonista e falar “ele é literalmente eu”. No entanto, felizmente, o diretor parece estar consciente disso e retoma as rédeas da sua construção de mundo e ambientação, apesar de demorar mais do que o necessário para fazer isso, fazendo com que a primeira parte do filme seja extremamente monótona e chata.


Uma prova dessa consciência do David Fincher é a trilha sonora do filme, composta majoritariamente por músicas da banda The Smiths (das 17 músicas tocadas no filme, 11 são da banda), conhecida popularmente por ser uma banda de incels (mesmo sendo muito boa). O exagero de The Smiths aqui chega a ser cômico, em uma quantidade que nem filmes como “500 Dias com Ela” chegou perto de utilizar, que acaba combinando muito bem com a estética do filme estabelecida até então.


Roteiro


“O Assassino” tem um roteiro bastante inconstante, principalmente em relação ao andamento da trama. A primeira metade do filme passa um tempo insuportável na rotina do protagonista, exaltando como ele é um assassino frio e calculista e como ele faz parte da minoria (papo bem red pill) até ele finalmente errar o tiro. Quando isso acontece, acabam tendo consequências inesperadas para ele e sua família.


O problema é que enquanto o filme faz uma construção - mesmo que supérflua - do protagonista, o roteiro não se preocupa nem um pouco com os outros que estão naquele mundo até então. Tem uma cena para mostrar como a mulher do protagonista foi forte e resistiu ao ataque de retaliação, e fica claro que o diretor queria que o espectador sentisse algo, mas ninguém liga para essa mulher, pois o filme sequer deu contexto que ela existia antes. Enquanto ele é extremamente lento quando não precisa, ele é extremamente rápido quando precisa ser mais devagar.


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Foto: Divulgação/ Netflix

Dá para comparar o filme com o que acontece em “John Wick”, pois após a esposa do protagonista ser hospitalizada, a narrativa do filme segue literalmente a mesma estrutura de vingança. Porém, “John Wick” tem uma construção bem interessante a partir do cachorro, recurso que liga ele com a mulher morta, e que quando é assassinado, o espectador também sente a morte dele (até porque mexer com cachorro é desleal também). Mas em “O Assassino”, a motivação do personagem e nada parece ser a mesma coisa, o espectador é forçado a aceitar ela mesmo sem ser convencido.


Virada de Chave


Dito tudo isso, a partir da segunda metade do filme, as coisas começam a melhorar. Além do que já discutimos, enquanto assistia, eu não estava convencido que esse cara era um assassino bom de verdade por ele ter errado um tiro que deveria ser ridículo para ele, mas o filme constrói bem o quanto ele é bom em seu trabalho de forma tanto sutil quanto expositiva, isso é muito bem feito.


A partir do segundo terço do seu ato de vingança, a história engata de verdade e começa a ficar cada vez mais interessante. O protagonista precisa encontrar aqueles que foram responsáveis por ferir sua esposa e dar cabo deles, e cada um desses confrontos é extremamente legal e diferente. Desde cenas de luta às conversas, o filme começa a ter um esquema bem centrado aonde quer chegar, além de subverter algumas expectativas de forma bem inteligente, diferente da primeira metade do filme.


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Foto: Divulgação/ Netflix

Acontece que o voice-over é um recurso de cinema extremamente difícil de ser aplicado e eu acredito que ele acaba prejudicando o filme, junto com o roteiro pouco inspirado na parte inicial, tanto que o longa começa a melhorar justamente quando o recurso vai ficando mais de escanteio na trama.


A reta final do filme é interessante também, mas acaba tendo uma queda em relação aos embates, pois dá a sensação de ser fácil demais, diferente dos desafios que o personagem tinha enfrentado anteriormente. Parece que acabaram as ideias justo na parte que estava mais emocionante. Ao menos, o final acaba dialogando bem com o que foi proposto na parte inicial, mesmo não sendo nada fora da curva.


Conclusão


É interessante pensar que eu me refiro ao assassino apenas como “o personagem” ou “o protagonista” pois ele não tem um nome fixo. Cada vez que precisa ir para algum lugar ele utiliza uma identidade falsa, detalhe bem colocado no filme. Essa é a questão que resume o longa para mim, ele tenta ser extremamente frio, metódico e calculista, acompanhando o conceito do protagonista, mas acaba tropeçando bastante em transmitir essas ideias durante as cenas de forma satisfatória, sendo impactado até mesmo na escrita. Ainda assim, consegue fazer isso em alguns momentos, tendo virtudes que, no geral, se sobressaem aos seus defeitos.


Nota: 3/5 🔫





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