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CRÍTICA | NYAD vai do ego à vitória

Atualizado: 8 de jun. de 2024


NYAD

Nyad é um filme que passeia nos entremeios da dicotomia de aprisionamento e liberdade que os sonhos carregam, deixando claro o inferno do ego. Baseado na história real da nadadora Diana Nyad, que aos 60 anos de idade se lançou ao mar aberto entre Cuba e a Flórida, um desafio que muitos consideravam suicida, o filme acompanha a obsessão, o sofrimento e a agonia dessa façanha absurda. 


Diana teve que enfrentar os fantasmas do seu passado, os perigos do presente e as dúvidas do futuro, contando com o apoio da sua melhor amiga e técnica Bonnie, interpretada por Jodie Foster, e de uma equipe exploradora que sofreu na mão do ego exacerbado de Diana.


Podendo continuar uma vida pacata ao lado de Bonnie, aproveitando os louros do passado e de sua carreira como jornalista esportiva em uma casa confortável com seus animais de estimação e amigos, Diana é levada a buscar por mais. Incapaz de ouvir um simples “não”, ela se torna cada vez mais obstinada a perseguir seus sonhos. Nyad vê seu destino e toda a sua realização pessoal naquele objetivo. Dessa forma, ao mesmo tempo em que se vê livre das limitações expostas pelos fatores externos e por sua idade, acaba se tornando prisioneira de um desejo que consome finanças e relacionamentos.


O filme é dirigido pela dupla Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi, que já haviam nos entediado com o documentário Free Solo, sobre a escalada sem cordas de Alex Honnold no El Capitan. Eles conseguem captar a feiura e a crueldade do mar, as neuroses e as fragilidades da protagonista, e a tensão da equipe. A fotografia se esforça para não tornar o filme monótono, grandes planos abertos, ora sobe, ora desce, ora fecha tudo na intenção de evitar o tédio que deve ser acompanhar uma nadadora por mais de 52 horas. Nem sempre deu certo, mas valeu a tentativa.


NYAD
Foto: Divulgação/Netflix

A trilha sonora segue a mesma linha do filme, com músicas que evocam nostalgia dos anos 70 e 80. Mas deixo aqui uma menção honrosa para a cena em que a protagonista é atacada por um tubarão. A trilha sonora capta bem a emoção de ansiedade, medo e nervosismo. Assim, foi um dos poucos momentos de tensão do filme, mas o suficiente para conseguir escancarar os perigos que a atleta corria enquanto estava em busca do seu sonho. 


A edição é inteligente em alguns momentos, como as estrelas na água caindo enquanto Nyad experimentava momentos de cansaço profundo. Além disso, os trechos que intercalam o enredo do filme com entrevistas reais ou filmagens da Nyad mais jovem trazem dinamicidade à trama. Mas ao fim do filme, acabam se tornando uma estratégia cansativa e monótona, chegando a passar batido.


Outro ponto a se destacar é que os trabalhos em CGI também contribuem para enfraquecer a qualidade do filme, O tubarão feito em CGI é reaproveitado nos dois momentos que aparece e ainda por cima é um CGI tosco que deixaria Sharknado envergonhado.


Mas o grande destaque do filme são as atuações de Annette Bening e Jodie Foster, que dão vida a duas mulheres fracas, confusas e patéticas. Bening interpreta Diana e parece, sem exagero, ser intragável, mostrando a sua personalidade obstinada, às vezes insuportável, mas também covarde e insegura. Essa mescla de características fortes cria uma personagem carrancuda, obsessiva e que só liga para si mesma. 


Se a atriz conseguiu passar todas essas sensações em uma personagem tão áspera, temos então algo diferente aqui. Foster faz o papel de Bonnie com delicadeza e doçura, demonstrando o seu mental forte, a sua doçura com a amiga carrancuda e o seu anseio em tornar o sonho da amiga o seu. As duas têm uma química excelente na tela, e nos fazem torcer a cada momento.


NYAD
Foto: Divulgação/Netflix

Nyad é um filme que nos irrita e nos faz refletir sobre os nossos próprios fracassos e limites. Um filme que vale a pena assistir pelas atuações e se aborrecer com o quanto uma atleta pode ser autocentrada. 


O esforço feito para tornar essa história mais palatável e as nuances introspectivas de cada um dos personagens é o suficiente para que a trama se destaque. Vale a pena dar uma chance para entender mais sobre como os nossos sonhos podem ser uma armadilha cruel ou uma doce aventura.


Nota: 4/5




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