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CRÍTICA I Pinguim desliza ao topo de Gotham

Atualizado: 19 de nov. de 2024


Pinguim

Após o sucesso do impactante The Batman (2022), dirigido por Matt Reeves, a série derivada do personagem Oswald Cobblepot, o “Pinguim”, conquistou grande atenção do público. Produzida pela HBO e liderada pela showrunner Lauren Lefranc, a produção, protagonizada por Colin Farrell (Os Banshees de Inisherin), explora novas dimensões de um personagem que, embora amplamente conhecido, raramente recebeu um tratamento mais profundo.


Desde o início, Pinguim se apresenta como uma série de máfia. O próprio Oswald Cobblepot claramente se inspira em Tony Soprano (Família Soprano), com semelhanças na entonação de voz, impulsividade e relação conturbada com a figura materna. No entanto, uma diferença fundamental distingue os dois: enquanto Tony lidera uma máfia decadente em Nova Jersey, Oz é apenas um subordinado buscando ascender na hierarquia do crime de Gotham.


Nos primeiros episódios, é essa posição desfavorecida e a submissão de Oswald aos grandes chefes do crime que despertam uma certa empatia. Essa conexão se fortalece graças ao coadjuvante Victor Aguilar (Rhenzy Feliz), que, após tentar roubar uma calota da Maserati ameixa de Oz, torna-se seu aliado e aprendiz. Victor, também originário das margens de Gotham, funciona como uma âncora humanizadora para o Pinguim. Apesar dos crimes brutais que comete, a dinâmica entre os dois permite ao público torcer por Oswald, graças ao carisma do personagem e à relação construída com “Vic”.


Ao longo da série, Oswald sustenta a narrativa de que, apesar de sua agressividade, sua origem humilde e os traumas vividos o diferenciam de figuras como os Falcones e Maronis, que sempre o trataram com desdém. Esse contraste é explorado na relação de Oz com Sofia Falcone (Cristin Milioti), seu principal contraponto na série. Enquanto ele busca conquistar o topo do submundo de Gotham, Sofia, inicialmente retratada como implacável e assustadora, revela ao longo da trama uma complexidade emocional e um desejo de se libertar de seu passado. Mesmo com atos brutais, a personagem ganha uma camada humana que enriquece sua trajetória.


Outro aspecto marcante da série é a relação de Oz com sua mãe, Francis Cobb. Essa conexão, ao mesmo tempo em que o impulsiona, expõe seu lado mais vulnerável e narcisista. A dualidade das emoções familiares é bem explorada, remetendo ao “dilema do ouriço” de Schopenhauer: os ouriços se aproximam no inverno para se aquecer, mas acabam se ferindo ao se tocarem. De forma semelhante, Oswald frequentemente fere e trai aqueles que confiam nele, ao mesmo tempo em que sente profundamente qualquer afronta, por menor que seja, devido ao seu ego frágil.


A jornada de Oz rumo ao domínio do crime é fascinante por sua abordagem estratégica. De um capanga subestimado, ele utiliza sua lábia e inteligência para conquistar aliados e acordos. Seu talento para manipulação é a chave de sua ascensão, especialmente porque os que o subestimam não esperam sua sagacidade. No entanto, a série evita a armadilha da repetição ao mostrar que as ações de Oz têm consequências: os personagens enganados por ele reagem, criando uma teia de eventos que mantém a narrativa dinâmica.


Além de contar uma história envolvente, Pinguim se sustenta como um produto independente. Embora assistir The Batman enriqueça a experiência ao introduzir Gotham e o personagem, a série oferece toda a contextualização necessária para ser compreendida isoladamente. O final é satisfatório, encerrando bem a trama principal, mas deixando espaço para futuras expansões no universo de Matt Reeves.


*Em colaboração com Vinícius Nocera


Nota: 4,5/5

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