CRÍTICA I O Bastardo é um bom filme, mas peca pela grandiosidade
- Vitor Rocha
- 12 de set. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 26 de set. de 2024

"O Bastardo" (2023), dirigido por Nikolaj Arcel, conhecido por "O Amante da Rainha", e estrelado por Mads Mikkelsen ("A Caça"), é um filme que, apesar de prender a atenção com sua atmosfera e atuações, acaba tropeçando no seu terço final. Exibido no Festival de Toronto deste ano, a trama acompanha Ludvig Kahlen, um bastardo que busca ascender à nobreza transformando a Jutlândia, uma terra árida da Dinamarca, em solo fértil. Ex-militar, Kahlen investe seus próprios recursos nessa expedição, em troca de um título de nobreza e parte dos lucros. Ao longo de sua jornada, ele desenvolve laços inesperados que acabam moldando sua trajetória de diversas maneiras.
Arcel imprime à região da Jutlândia uma paleta fria e desolada, assim como Kahlen. O personagem de Mikkelsen é ao mesmo tempo enigmático e distante, mas Arcel constrói pontes para que o público se conecte com ele através de dois núcleos narrativos: o antagonista malvadão (Xamã) e a família que o protagonista acaba formando ao longo da trama. Esse segundo núcleo é, sem dúvidas, o ponto alto do filme, humanizando o protagonista e adicionando camadas à sua personalidade.

Reprodução: Os Bastardos
Amanda Collin e Melina Hagberg são peças fundamentais nessa construção, oferecendo apoio emocional a Mikkelsen, que pouco a pouco transforma Kahlen em uma figura complexa e, de certa forma, amável. No entanto, o retorno à busca pela nobreza desmancha muito desse desenvolvimento. Ao invés de um dilema mais profundo sobre as ações de Kahlen, o filme opta por jogar parte das responsabilidades morais sobre o vilão De Schinkel, interpretado de forma competente por Simon Bennebjerg, mas que, no fim, é uma figura superficial. Essa abordagem simplista cria uma dicotomia fácil, onde, independentemente das ações de Kahlen, o vilão é sempre pior, deixando o protagonista numa zona de conforto moral.
Apesar desse tropeço no desenvolvimento do conflito, o filme brilha nas interações familiares e no retrato da vida na fazenda. Arcel constrói um microcosmo fascinante ao redor da plantação, como a presença de Anmai Mus, que atua como um talismã de sorte, e o relacionamento de Kahlen com Ann Barbara. Esses elementos enriquecem a narrativa e criam uma imersão profunda no mundo do protagonista.

Reprodução: Os Bastardos
O problema surge quando o filme se afasta desse núcleo familiar. Ao focar no confronto entre Kahlen e De Schinkel no terço final, a narrativa perde muito do seu encanto, entregando um conflito genérico que, apesar de momentos inspirados, como o retorno de Ann Barbara, carece de profundidade. O desfecho, com um salto temporal apressado, falha em transmitir o impacto emocional da passagem do tempo e a reconciliação da família. É um fim que, embora funcional, deixa a sensação de que algo importante ficou pelo caminho.
No geral, "O Bastardo" oferece uma experiência cinematográfica sólida, com visuais impactantes e atuações memoráveis, mas seu potencial é enfraquecido por escolhas narrativas que favorecem a superficialidade em detrimento da profundidade.
Nota: 3,5/5
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