Crítica I Jardim dos Desejos é sobre florescer enquanto ser humano
- Vitor Rocha
- 6 de jun. de 2024
- 2 min de leitura

"Jardim dos Desejos," o novo filme do veterano Paul Schrader (conhecido por "Fé Corrompida" e "Mishima: Uma Vida em Quatro Tempos"), apresenta uma premissa provocativa, mas é um longa-metragem revestido de uma sobriedade que contém momentos de impressionante força poética.
A trama segue Narvel Roth, brilhantemente interpretado por Joel Edgerton, um ex-supremacista branco que cumpre sua pena trabalhando como jardineiro habilidoso na propriedade de Norma Haverhill (Sigourney Weaver). A partir do momento em que Maya (Quintessa Swindell) é contratada, a vida aparentemente pacífica e monótona de Narvel é abalada, forçando-o a confrontar seu passado.

Reprodução/Magnolia Pictures
O filme começa de uma maneira um tanto econômica. Os personagens ficam basicamente no universo particular do jardim, quase que isolados do mundo. O jardim e a rotina metódica vivida por aquele grupo demonstra uma certa pacificidade que o personagem de Edgerton adquiriu ao longo do tempo. Nesse sentido, a força motriz da narrativa é justamente esse elemento externo, nesse caso Maya, uma afro-americana que vai agitar a vida aparentemente monótona de Narvel enquanto o força a confrontar seu passado.
Apesar da premissa provocativa e das tatuagens supremacistas do protagonista, as quais ele tenta esconder, a abordagem individualista do filme revela seu caminho político. "Jardim dos Desejos" foca na conexão entre os personagens, resultando em uma preocupação social apresentada de maneira menos direta. Esse aspecto funciona como um centro de tensões na narrativa, estabelecendo os conflitos sem ser excessivamente didático.

Reprodução/Vertigo Releasing
Pensando na perspectiva temporal do filme, enquanto o personagem de Edgerton carrega as cicatrizes do passado em sua pele, a personagem de Swindell busca exorcizar seus traumas, que ainda estão presentes de forma ativa em sua vida. A partir do momento em que os dois estabelecem uma relação afetiva, os conflitos de Maya começam a se desenrolar de maneira, porém de maneira controlada. O filme constantemente lida com a possibilidade de uma catarse final que nunca se concretiza plenamente, ou se ocorre, é de maneira mais contida, refletindo a resignação de Narvel.
A condensação de todos esses aspectos, sejam eles políticos, traumáticos ou românticos, converge para a ideia central do longa: florescer. Narvel precisa confrontar e aceitar seu passado para avançar ao lado de Maya, que, por sua vez, deve se libertar de suas relações para desabrochar. Em um momento específico, Schrader rompe a sobriedade do filme e insere um jardim florescendo enquanto os personagens viajam pela estrada à noite, oferecendo uma força poética que sintetiza o longa através da imagem.

Reprodução/Jardim dos Desejos
Veredito
Em resumo, Jardim dos Desejos captura a jornada de crescimento e transformação dos seus personagens, revelando como enfrentar traumas e superar barreiras pessoais pode levar a um novo início. Schrader tece uma narrativa onde a evolução emocional e espiritual se desenrola de forma lírica, refletindo a complexidade e a beleza da mudança. O cineasta nos mostra que o caminho para a cura e o crescimento é pavimentado pela coragem de enfrentar o passado. Dessa forma, o filme não é apenas sobre um homem, mas sobre o florescimento do espírito humano, que, apesar das cicatrizes e dos traumas, tem a capacidade de desabrochar em plena força.
Nota: 4/5 🌼🌷
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