CRÍTICA | Gran Turismo: Bom dentro das pistas, complicado fora delas
- Roger Caroso
- 24 de ago. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de jun. de 2024
Quando se fala no nome "Gran Turismo" logo se pensa na franquia japonesa de jogos de corrida do Playstation. Nesse caso, o longa “Gran Turismo: De Jogador a Corredor” tem inspiração no popular game, mas diferente de filmes como o recente sucesso "Super Mario Bros." e o clássico "Mortal Kombat" de 1995, aqui a trama não é exatamente como na franquia de jogos.

No enredo, acompanhamos a história de Jann Mardenborough (Archie Madekwe), um jovem que passa a maior parte de seu tempo jogando Gran Turismo e quebrando recordes com sua grande habilidade. Porém, a vida do protagonista muda quando o executivo de marketing da Nissan, Danny Moore (Orlando Bloom) idealiza um projeto em que os melhores jogadores de Gran Turismo farão parte de uma academia para se tornarem pilotos profissionais.
O plot do filme não é alguma ideia maluca criada para as telonas, mas sim baseada em um caso real, que é a história do próprio Jann. Um jovem adulto que saiu de gamer para piloto profissional, chegando a disputar Le Mans e correr contra grandes nomes do automobilismo, como Esteban Ocon, que hoje corre na Fórmula 1 e o campeão da Fórmula Indy, Álex Palou. Além disso, ele mesmo foi o dublê do personagem inspirado na sua vida durante as cenas de corrida.

O filme pode ser dividido em duas partes, a primeira em sua introdução e conflitos iniciais, que são ligados aos acontecimentos fora das pistas. Já a segunda, com tudo que envolve as corridas e ações dentro dos carros reais.
Nos momentos em que a proposta é desenvolver um drama familiar, abordando a relação de Jann com o jogo, o roteiro e atuações passam por maus bocados. Os diálogos são fracos e expositivos, podendo gerar um incômodo ao espectador, visto que por vezes chega a ter sua inteligência desafiada pelo quão exageradas são as cenas.
Dentro das pistas, tendo Jann competindo em carros reais, o filme ganha os seus melhores momentos. São cenas fortes e que possuem o impacto de influenciar o espectador em seus sentimentos, seja na angústia, seja na torcida.
Um recurso que se torna recorrente durante a rodagem é a proposta de enxergarmos as corridas tal qual Jann as enxergaria devido seu histórico com o jogo. Assim, as cenas saem do cenário real e entram na representação do game, com seus gráficos e interface característicos. De fato é uma ideia curiosa, visto que é uma forma de aproximar o espectador com a versão original e digital daquilo.

Na direção temos um velho conhecido, o sul-africano Neil Blomkamp, que em 2009 despontou mundialmente com a ficção científica "Distrito 9". Nos anos recentes, suas produções vêm sendo bem aquém em comparação a sua estreia, tanto "Elysium" (2013) quanto "Chappie" (2015) falharam em conquistar o apelo seja do público, seja da crítica.
A direção de "Gran Turismo" não passa por uma série de altos e baixos. É bem conduzida em determinadas sequências de maior ação, mas acaba sendo determinante para que as cenas de drama passem um tom piegas e nada emocional.
O elenco como um todo não encanta, mesmo tendo seus pontos positivos. Todavia, Archie Madekwe como Jann não foi um deles, o ator falha ao tentar se conectar com o público e não consegue dosar os momentos em que ele deveria estar mais ou menos expressivo. Mesmo sendo muito experiente e competente, Djimon Hounsou entrega um pai unidimensional e pouco inspirado.
Orlando Bloom entrega mais do mesmo, praticamente num modo automático, por momentos lembrando até um coach. David Harbour é com certeza o mais empenhado, seu personagem possui mais facetas que a maioria e sua enérgica atuação ajuda em sua complementação.

"Gran Turismo: De Jogador a Corredor" acaba caindo no lugar comum e sem muito brilho, passando por cenas beirando a vergonha alheia, para outras já mais empolgantes. Definitivamente se tornaria um clássico da Sessão da Tarde, a história de alguém comum que consegue se superar e conquistar seus sonhos sempre é aprazível — ainda mais se tratando de um caso real — mas infelizmente não passa disso.
Nota: 2,5/5
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