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CRÍTICA | Godzilla Minus One e o monstro da Segunda Guerra Mundial

Atualizado: 8 de jun. de 2024


O Godzilla é um personagem bastante conhecido na cultura pop, principalmente por suas lutas colossais no maior estilo Tokusatsu. O famoso monstro tem um fandom tanto com os orientais quanto com os ocidentais.


Porém, a forma como cada lado do globo (principalmente Japão e Estados Unidos) representa os filmes desse personagem muda drasticamente. Mesmo a aparência se mantendo semelhante, o contexto ao redor do Kaiju não segue a mesma linha, e isso fica extremamente claro em Godzilla Minus One.


Enquanto os longas americanos do dinossauro costumam ter como o foco apenas as batalhas entre o monstro com outras criaturas enormes, as versões japonesas estão muito mais preocupadas com o contexto por trás dessas lutas. Em Godzilla Minus One, é possível observar um Japão completamente destruído pela Segunda Guerra, em que a aparência do Godzilla representa mais uma ameaça que o povo japonês vai precisar passar para conseguir sobreviver. E que ameaça. 


O diretor deixa claro como o potencial destruidor da besta é bizarro. O uso de computação gráfica é extremamente inteligente, já que possui um  orçamento estimado de 15 milhões de dólares, baixíssimo para um filme que necessita de tantas explosões e poderes apocalípticos. Para efeito de comparação, o último filme da versão americana do personagem, lançado em 2021, contava com um orçamento de cerca de 165 milhões de dólares, 11 vezes o valor do longa japonês.


Mesmo assim, dá pra sentir na pele o terror de quando o personagem aparece, destruindo tudo e cada vez mais evoluindo, provando-se uma metáfora eficiente dos males que o Japão teve que enfrentar com a Segunda Guerra.


Godzilla - Foto 1
Foto: Reprodução/ Toho Pictures

É interessante também a forma como o filme trata de temas extremamente complicados de forma extremamente plástica, como o fascismo japonês e a tradição sufocante de alguns costumes. Com isso, a obra tece uma crítica extremamente bem feita conforme os minutos passam.


Mesmo com essa abordagem de fundo incrível, as cenas de ação não ficam para trás. A direção de Takashi Yamazaki e a trilha sonora de Naoki Sato são capazes de deixar os espectadores vibrando nas batalhas, que se revelam bem pensadas.


Os personagens também são interessantes. O protagonista, muito bem interpretado por Ryunosuke Kamiki, é apresentado como o exemplo do fracasso japonês, pois era um piloto kamikaze que não conseguiu morrer em combate para proteger a sua nação. É intrigante a forma como ele acaba sendo um ponto que ressoa com toda a obra, de forma que o personagem representa toda a discussão que está sendo feita e toda a discussão representa ele.


Isso traz um ponto que, para mim, é novidade nesses filmes de monstros gigantes e destruidores: aqui eu fiquei do lado dos humanos, em um contexto que quase sempre eu torço para o monstro destruir todos.


Godzilla - Foto 2
Foto: Reprodução/ Toho Pictures

De problemas com o longa, tenho alguns: a trama demora para engatar e o início é monótono. Mesmo se justificando em parte, ainda sim não foi tão bem pensado quanto o resto. Os personagens em geral não são bem escritos. Mesmo sendo carismáticos, acabam sendo apenas um arquétipo da função que desempenham.


Então existe, por exemplo, o cientista, o pescador, a esposa, a filha, mas eles em si não são tão interessantes. Godzilla Minus One é muito bom em focar no geral, mas quando volta para essas coisas menores, o filme revela pequenas rachaduras. Porém, essas rachaduras não são capazes de destruir a base forte do filme, que resiste coeso e forte como um longa surpreendente e, de fato, muito bem feito.


Nota: 4/5





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