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CRÍTICA | FERRARI revela o homem por trás das quatro rodas

Atualizado: 8 de jun. de 2024


FERRARI

“Peça a uma criança para desenhar um carro, ela certamente o fará vermelho”. Não tem frase melhor para descrever uma marca emblemática, histórica  e mundialmente conhecida por amantes e não amantes do automobilismo. Não tem como pensar em carros e corridas sem lembrar da Ferrari, empresa que tem como fundador Enzo Ferrari.

 

O filme em questão, é justamente uma representação dessa icônica empresa, não é a história de como a marca começou, mas de como se manteve para futuramente se tornar o que é hoje, apesar dos pesares e de estar à beira da falência. Mas não se engane, o foco da narrativa é um período da vida e as perspectivas de Enzo Ferrari, a empresa ganha atenção, por ser uma das partes mais importantes da vida desse homem. 


A obra começa de uma forma bem interessante, misturando cenas reais de corridas passadas, com cenas gravadas atualmente, com o ator Adam Driver pilotando, como se fosse de fato o Enzo Ferrari. As cenas foram gravadas e editadas de forma a se misturarem com as cenas de arquivo utilizadas, realmente inserindo o ator no “passado”. Uma boa introdução, sem falas, apenas imagens históricas e os roncos dos motores em alta velocidade.


Outro ponto notável, foi que no começo do longa, das cenas de arquivo até o som do telefone, não houve nenhum diálogo ou trilha sonora, apenas sons orgânicos e ainda assim nenhum take ficou fora de contexto. Dá para contar esse trecho como uma espécie de prólogo, para ter de fato uma introdução do momento em que Laura (esposa de Enzo), personagem de Penélope Cruz, atende o telefone, em diante. 


FERRARI
Foto: Divulgação/ STX Entertainment

A ambientação aparentou ter sido algo levado muito a sério pela produção da obra. O uso de cenas de arquivo, a caracterização dos personagens e figurantes, os modelos dos carros, os costumes e trejeitos da época e até os filtros utilizados nas imagens, deram o ar dos anos 50. 


E falando nos carros, qualquer amante de automobilismo fica com os olhos brilhando o filme inteiro. Diversos modelos e marcas históricas, como Maserati e Alfa Romeo, marcam presença, além da Ferrari, obviamente, máquinas de tirar o fôlego! Sem falar dos planos detalhes, nada de falas, somente o ronco do motor, foco no piloto, trocas de pedal e trocas de marcha… (Realmente não parava de sorrir e suspirar.)


Como já mencionado, a narrativa foca nessa parte da vida de Enzo Ferrari, tendo alguns dilemas pessoais como pontos centrais. Além da falência batendo na porta e de todas as situações envolvendo carros, pilotos e corridas, a outra grande questão é a sua outra família, que é apresentada logo no começo da narrativa, mas o contexto de surgimento só é esclarecido mais adiante na história. 


FERRARI
Foto: Divulgação/ STX Entertainment

Nesse ponto da sua jornada, podemos notar que sua relação com Laura está um tanto desgastada. Eles ainda vivem juntos, são parceiros de negócio e ela se mostra uma mulher muito astuta e inteligente (mais para o final, se mostra indispensável para a continuidade da empresa). No entanto, sua relação pessoal está precária, ficando subentendido que o desgaste começou após a morte de seu filho, Dino Ferrari. Essa perda mudou e impactou muito a vida de ambas as personalidades.


A outra família do personagem passa a sensação de ser um refúgio para ele, um lugar tranquilo e seguro. Além disso, dessa relação, surgida na guerra, Enzo redescobre o amor e gera um filho, Piero. Essas sensações são transmitidas pela atuação dos atores, o olhar, os trejeitos, trazendo uma leitura dos sentimentos e personalidades dos personagens.


Grande exemplo disso, é uma cena que mostra o passado, quando Dino ainda estava vivo,  as personagens de Penélope Cruz e Adam Driver estão com um olhar sereno e um sorriso tranquilo. Já durante o resto da narrativa, ambos se mostram mais fechados, cansados e carrancudos. Os únicos momentos em que Adam atua de forma mais relaxada são quando seu personagem interage com a personagem de Shailene Woodley, Lina Lardi e seu filho.


O HOMEM E SUAS MÁQUINAS


Não dá para falar de Ferrari e não falar de corrida. As corridas eram o propósito do Enzo, a paixão, o motivo que o levava a desenvolver e melhorar seus carros. Isso fica muito claro com uma fala dele, onde constata que outras empresas ganham corridas para vender carros, mas, ele vende carros para vencer corridas.


Essa fala surge no contexto de uma conversa sobre os problemas da falência iminente, quando a solução encontrada, seria vencer a emblemática Mille Miglia (uma corrida pela Itália), para ganhar visibilidade e atrair possíveis investidores. Mas essa não foi a única estratégia utilizada. Enzo é retratado como um homem inteligente e ambicioso, utilizando inclusive da influência jornalística para alcançar seus objetivos, apesar da sua relação de “amor e ódio” com os profissionais do ramo. 


FERRARI
Foto: Divulgação/ STX Entertainment

As corridas são retratadas de uma forma que merece atenção, mostrando os dois lados do esporte na época. Vida e morte. Ao mesmo tempo que mostra a emoção da corrida, a adrenalina que ela causa, o sorriso e a vontade de vencer no olhar dos pilotos… Mostra o medo e os perigos de uma época onde os carros não apresentavam um nível de segurança como hoje em dia. Entrar num carro e participar de uma corrida, gerava quase as mesmas sensações de ir para a guerra, até cartas de despedida os pilotos escreviam para suas amadas, para o caso do pior acontecer.


A história da Ferrari carrega nas costas acidentes fatais e o filme traz alguns deles. Os efeitos visuais deixam a desejar em certas partes, mas as cenas das tragédias e o impacto que causaram, estão presentes durante toda a narrativa. O sentimento retratado é que, ao entrar num carro ou numa corrida, é vencer, ou morrer. Num segundo tudo vai como planejado, ou até melhor, mas no instante seguinte, vidas podem ser perdidas, deixando pessoas e famílias desamparadas e emocionalmente abaladas.


FERRARI
Foto: Divulgação/ STX Entertainment

No geral, é uma narrativa com um ar de cotidiano, com a trilha sonora se fazendo mais presente somente do meio para o final do filme. No começo, basicamente o que se escuta são sons orgânicos: passos, barulho da cidade, trens e carros. As cenas que utilizam de trilha sonora, majoritariamente, foram cenas que necessitavam de um “quê” de emoção ou tensão. Por conta do risco de falência e toda a questão familiar, era de se esperar que um sentimento de urgência se fizesse mais presente, porém, as coisas são levadas com mais calma do que deveria. Mesmo retratando acontecimentos históricos, poderia ter tido mais emoção.


É um filme interessante, que mostra ao público mais uma parte da história dessa emblemática empresa e seu criador. Uma obra que mexe com o coração dos amantes de carros, só de ouvir o ronco do motor. Mostra a dualidade da emoção e do perigo de uma corrida na época, além de permitir a reflexão de um comparativo dos níveis de segurança dos carros de corrida da época, com os atuais. 


Como torcedora da Ferrari, foi um filme que eu gostei de assistir, saber mais sobre o porquê de alguns fatos que eu apenas tinha ouvido falar. Além disso, ter a experiência de literalmente torcer para a Ferrari vencer a corrida, numa tela de cinema, mesmo sabendo que era apenas um filme, foi algo a se observar.


Nota: 4/5 🏎️



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