CRÍTICA | Babygirl é um sexo tenso
- Roger Caroso
- 9 de jan.
- 3 min de leitura

O mais novo filme estrelado por Nicole Kidman já chega como um vilão dos brasileiros, visto que a australiana, assim como Fernanda Torres, está na corrida por uma indicação ao Oscar. Então, vamos tentar entender qual é a dessa (uma das) antagonista do público tupiniquim.
Na trama, Romy Mathis (Kidman) é uma empresária de sucesso e muito reconhecida como um símbolo de empoderamento feminino dentro do mundo dos negócios. Por mais que ela seja tão bem sucedida no profissional, a parte pessoal dela mostra conflitos. Mesmo sendo casada com Jacob (Antonio Banderas) e tendo duas filhas, algo a incomoda seriamente no sentido amoroso, ou melhor, sexual.
Esse conflito só aumenta com a chegada de Samuel (Harris Dickinson), um jovem rapaz que é o mais novo estagiário da empresa de Romy. Ele de cara não tem papas na língua, é fortemente questionador sob a chefe e a companhia, gerando um choque geral na CEO. As coisas vão além a partir do momento que ele a escolhe para ser sua mentora dentro da empresa, possibilitando momentos a só, onde esse relação de poder e sexo só aumenta.

O longa tem temas claros, somos apresentados a uma grande tensão a partir do quão perigosa essa relação pode ser para Romy, mas também do quanto ela necessitava desse choque, tensão e inversão de papéis. Ainda que ela represente essa força e empoderamento na mídia, internamente ela é atraída por algo diferente, a submissão.
A atração da personagem não foi por beleza ou físico, mas por um comportamento. O controle e imposição representados por Samuel chama atenção desde o primeiro encontro, quando ela o vê domar um cachorro raivoso. Essa potencialidade é abordada não só nas conversas, mas também no sexo. Romy agora tem um dono, um homem finalmente consegue satisfazer seus prazeres e ao final do dia, chamá-la de “boa menina”.
Essa relação não implica apenas no sentido físico, como no sentido mental. Mathis se acostumou a dar ordens, mandar nos outros, ter sempre quem fizesse o que ela queria, o caso com Samuel pode aparentar ser diferente, pelo menos no nível superficial, onde agora ele quem dá as cartas. Todavia, mesmo não aparentando estar na posição de maior poder, ela utiliza esse romance para finalmente satisfazer seus prazeres, com o rapaz apenas significando uma certa imprevisibilidade e uma suposta ocasionalidade em sua vida.

O filme retrata de forma instigante essas clássicas dinâmicas de poder dentro da sociedade. Homem e mulher, chefe e empregado, jovem e velho, e até da falsa moralidade a partir do momento que o affair pode implicar na família. “O que os olhos não veem, o coração não sente”, frase clássica definitivamente apoiada por Romy, já que a mera presença de Samuel perto dos seus entes queridos gera nervosismo. Seja no medo da descoberta, que iria desmoronar esse castelo de fadas, seja no entendimento dele como uma figura de perversão, um veneno que só ela pode tomar.
São fatos como esse que dão o escopo do filme e das atuações. Nicole Kidman não tem a clássica atuação que ganha Oscar's, ela é o retrato de um pessoa em constante conflito que busca satisfazer questões difíceis e muito bem maquiadas por ela. A atriz conduz a obra, é inegável a potência da performance, que deixa o elenco de apoio resumido a nota de rodapé.
Já Harris Dickinson consegue passar o ar enigmático necessário, mas que ainda gera dúvidas sobre sua real persona e do que de fato está tramando, um competente trabalho, mas que não está no nível da protagonista. Banderas vai dos extremos de marido atencioso para o homem determinado a mostrar virilidade contra alguém mais novo, é meio canastrão, mas a gente já tá acostumado com isso vindo dele. Outra citação válida é de Sophie Wilde como Esme, a assistente de Romy. Durante a rodagem essa personagem vai galgando espaço na tela, na trama e na profissão, ao fim mostrando ser mais do que davam a ela.

A diretora neerlandesa Halina Reijn apresenta um trabalho muito mais interessante do que no longa anterior “Morte Morte Morte” – que considero bem fraco, aliás – aqui trazendo um estilo mais centralizado e com forte ênfase nas cenas de tensão/tesão. A fotografia de Jasper Wolf tem seus momentos para contrabalançar a estética pouco chamativa nas cenas durante o dia. A trilha de Cristobál Tapia de Veer também não alcança grandes feitos, mas compõe bem na criação de tensão.
No geral, Babygirl apresenta uma ácida trama, com discussões que podem até ser lidas em camadas mais profundas, mas também não explorada em níveis além do superficial. De fato, algumas cenas específicas realmente vão ser um pouco chocantes e possibilitar algumas reações inusitadas do espectador. No mais, Nicole Kidman tem uma ótima atuação, que lidera essa produção, mas no momento parece não ser o suficiente para a indicação ao Oscar.
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