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CRÍTICA | Asteroid City é uma bela confusão de Wes Anderson

Atualizado: 8 de jun. de 2024

Nesta quinta-feira (10), tivemos a estreia de “Asteroid City”, 11º longa-metragem do diretor Wes Anderson. Se tratando de um dos mais celebrados realizadores cinematográficos da atualidade, o filme já chega com altas expectativas atreladas a si, mas será que as atinge?


Mantendo a já corriqueira característica dos filmes do diretor, “Asteroid City” tem um visual invejável e único, que só de bater o olho é possível reconhecer sua autoria. Cores vibrantes, cenários lúdicos e encantadores, que por si só ajudam a contar boa parte da história de suas obras.


Outro ponto clássico dos filmes do diretor são os seus elencos, pois eles são recheados de grandes estrelas de Hollywood e aqui não é diferente. Temos nomes como, Scarlett Johansson, Tom Hanks, Bryan Cranston, Tilda Swinton, Jason Schwartzman, Edward Norton, Jeffrey Wright, Adrien Brody, Willem Dafoe, Steve Carell, Margot Robbie e até mesmo uma participação especial do ator e musicista brasileiro Seu Jorge.


O cantor carioca já havia colaborado anteriormente com Wes Anderson, atuando no filme “Life Aquatic With Steve Zissou” onde fez o personagem Pelé dos Santos. Além disso, ele performa na trilha sonora do longa, tendo interpretado 14 canções de David Bowie em sua própria versão de cada música, agora trazidas para o português.


Asteroid City
Foto: Reprodução/ Universal Pictures

A história se passa no ano de 1955, em uma pequeníssima e fictícia cidade no meio do deserto americano, Asteroid City, que tem como sua única característica uma cratera criada por um asteroide milhares de anos atrás. Augie Steenbeck (Jason Schwartzman), que está levando seu filho para a convenção de Observadores Cósmicos Jr./Cadetes Espaciais, destinada a jovens superdotados e suas invenções. Contudo, durante a premiação, um OVNI (objeto voador não identificado) sobrevoa a cratera e um alienígena desce para recolher o asteroide, gerando uma quarentena forçada pelos militares presentes na ocasião.


Asteroid City não conta com a estrutura linear clássica do cinema, aqui temos um grande uso da metalinguagem. No primeiro plano estamos acompanhando um programa de ficção científica americano da década de 50, que por sua vez, acompanha o dramaturgo que está escrevendo uma peça chamada “Asteroid City” e preparações até a estreia no teatro.


Enquanto em uma cena podemos acompanhar os acontecimentos fictícios do longa, com suas cores vibrantes e enredo fantasioso, na cena seguinte temos a quebra disso, com a volta ao mundo real, nas cores preto e branco e mostrando que tudo visto se tratava de uma peça. Essa utilização de diferentes planos narrativos serve para nos levar para diferentes percepções da trama, aumentando a riqueza da obra.


Wes Anderson se utiliza dessa criação de um universo dentro de um universo para trazer suas reflexões pelos mais variados temas. Sejam eles sentimentos como o luto de Augie e sua família, seja as reações da sociedade com eventos fantásticos ou até mesmo o processo criativo e desgastante na construção de uma obra artística.


Asteroid City
Foto: Reprodução/ Universal Pictures

Fora as reflexões e pontos filosóficos, é necessário abordar a crosta do longa, aquilo que nós vemos objetivamente em cena. Wes Anderson novamente consegue fazer um brilhante uso das suas técnicas de stop-motion adquiridas primordialmente em “O Fantástico Senhor Raposo” (2009) e “Ilha de Cachorros” (2018), misturando a realidade com as miniaturas, dando um visual único do seu cinema. Por mais que Asteroid City seja uma cidadezinha de nada, os componentes visuais lhe dão muita vida e características marcantes, possibilitando que o espectador decore as localidades vá gerando familiaridade com o seus espaços e traços.


Pela nona vez, Anderson trabalha com o diretor de fotografia Robert Yeoman, que é parte fundamental desse visual tão celebrado do realizador, tendo sido parceiros em todos os filmes live-action do diretor até aqui. Mas neste longa em específico há um adicional. Tristan Oliver foi quem fez a cinematografia dos dois filmes em stop-motion do diretor e pode mais uma vez contribuir com suas belíssimas criações.


Essa foi a sexta colaboração consecutiva de Anderson com o renomado compositor Alexandre Desplat, por mais que seja um trabalho efetivo, aqui a trilha acaba por não se sobressair tanto como em outras parcerias dos dois, sendo importante para a construção sonora do extraterrestre, mas não marcando como outrora. A montagem de Barney Pilling está no ponto, não é fácil transformar tantas vertentes em algo palatável e ele consegue isso aqui.


Asteroid City
Foto: Reprodução/ Universal Pictures

Aqui temos provavelmente o grande ponto de discussão do filme, o seu roteiro. Mesmo que haja todo o trabalho para trazer significados maiores, mais filosóficos e pensativos, a superfície também é essencial e o filme acaba pecando um pouco nesse aspecto. Mais de uma dúzia de personagens são introduzidos, cada um com sua história a ser contada e desenvolvimento próprio. O roteiro tenta dar a devida atenção a cada um deles, chegando ao ponto de nos perguntarmos quem é o real protagonista da obra.


Fazer uma composição onde seja possível trabalhar tantos personagens e tantas narrativas distintas e algumas delas até bem intimistas é uma tarefa hercúlea a qual o roteiro se propõe e até consegue em certo nível. Isso gera uma grande falta de foco do filme, impossibilitando o espectador de se relacionar com a maioria daqueles personagens. Augie e seu filho Woodrow são os que mais tem tempo para que os conheçamos, mas em meio a tantas outras histórias eles ficam no quase, não sendo tão marcantes como alguns icônicos personagens vistos na filmografia de Anderson. Como o Sr. Raposo em “O Fantástico Sr. Raposo” e Max Fischer no clássico cult do diretor, “Rushmore” de 1998.


No geral, “Asteroid City” apresenta uma beleza digna de seu realizador, tem um enredo cheio de significados e subjetividades, mas na sua busca pela grandeza acaba perdendo o foco e saindo do eixo essencial. Nos dando uma obra rica, mas que acaba sendo fria, não comovendo e nem aproximando o espectador.


Nota: 3,5/5


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