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moqueka

CRÍTICA | Anora é um PUT4 filme

Atualizado: 23 de jan.

ESSA CRÍTICA CONTÉM SPOILERS!!!

Com uma sequência de cenas que transborda sensualidade, "Anora", dirigido por Sean S. Baker (Projeto Flórida), revela o seu nível de intimidade logo nos primeiros segundos de tela. O roteiro tem diálogos objetivos, que emanam uma energia jovem e imatura. Por outro lado, tem interações cruas, que superam o artificial e puxam o espectador para perto da intensidade retratada. Os longos momentos de silêncio são um elemento crucial para a sensação de "mundo real" provocada. Tons de azul e rosa remetem à visualidade de obras como "Euphoria" (2019) e, somados a uma ambientação moderna, dão o toque adolescente da trama.


O longa vencedor da Palma de Ouro tem cortes secos. As transições nada sutis trazem à tona o ritmo acelerado da realidade vivida pela protagonista Ani (Mikey Madison), uma stripper de 23 anos que da noite para o dia se vê casada com o herdeiro russo Vanya (Mark Eydelshteyn). A sua ascensão social, no entanto, é tão abrupta quanto sua queda.

Ani é uma stripper bem requisitada entre as garotas do clube "QG", em Nova Iorque. Graças à sua ascendência russa, ela é convocada por seu chefe para atender Vanya – ou Ivan, como é chamado nos EUA. Assim como num passe de mágica, a vida de Ani muda completamente: de intermináveis viagens de metrô pela cinza madrugada nova-iorquina para passeios luxuosos em Vegas. Acontece que a décima segunda badalada soa bem antes da meia-noite.


Ao receberem a informação de que seu filho teria se casado com uma prostituta, os pais ricos de Ivan, Galina e Nikolai Zakharov (Darya Ekamasova e Aleksey Serebryakov), deixam a Rússia em busca da anulação do suposto casamento. É aqui que o sonho de Anora – o verdadeiro nome de Ani – cai por terra. Ivan, como uma criança mimada que nunca foi obrigada a assumir quaisquer responsabilidades na vida, não perde tempo em abandonar sua recém-esposa.

A crise toma conta da narrativa. A angústia da dúvida em relação aos eventos seguintes é constantemente aliviada pelas figuras cômicas dos capangas do Sr. Zakharov. Aqueles que pareciam ser intimidadores guarda-costas russos, na verdade, são mais vítimas da inconsequência de Vanya. Com a evolução do conflito, as interlocuções entre Anora e Igor (Yura Borisov), em especial, abrem espaço para que a excelente performance de Madison tenha mais camadas de profundidade.


As atuações imprimem emoções extremas e à flor da pele. Pouco se sabe sobre o passado de Ani, o que expõe um ponto baixo do filme. Um tópico que poderia ser melhor aprofundado, destacando o abismo entre as realidades socioeconômicas dos protagonistas, é deixado de lado para dar vazão à rotina despreocupada do herdeiro protegido.

São três atos muito bem definidos. Enquanto no primeiro acompanhamos os excessos e luxuosidades da vida abastada de Ivan, no segundo são apresentados os desdobramentos do comportamento infantil e imprevisível do filho de um oligarca. Em uma extremidade vemos um pirralho que sempre teve tudo, e na outra uma jovem que tem o sexo como seu único instrumento de sobrevivência. Alguém que nunca precisou mentir sobre quem é e uma garota que utiliza um apelido para preservar sua identidade. Usar seu corpo é o único modo de conquistar as pessoas que Anora conhece. O sexo se tornou um refúgio, mas também uma prisão.


O desfecho se concretiza no instante em que ela, sempre obrigada a ser forte e implacável, encontra um único ambiente confortável e desmorona com toda a dor que carregava dentro de si.


Nota: 4/5

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