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Crítica | A Musa de Bonnard é uma obra mal feita



Em 1893, tudo mudou na vida do pintor francês Pierre Bonnard. Foi naquele ano que ele conheceu seu grande amor, Marthe de Méligny, que estava posando para um simples quadro que fazia para sua futura exposição. A trama, desde então, nos apresenta toda a história de amor e ciúmes do casal, além das pinceladas que levaram Bonnard a ser apelidado de “pintor da felicidade” em seu país natal. Sua musa inspiradora, Marthe, sozinha ocupa quase um terço de sua obra.


O filme francês é dirigido por Martin Provost (A Boa Esposa), que desde a infância é encantado pelas obras de Bonnard, especialmente um quadro retratando Marthe, cuja reprodução ele chegou a colar na parede de seu quarto. Para o diretor, a missão de mostrar sua visão dos personagens que marcaram sua infância não foi fácil. Ele tenta adaptar o longa, acompanhando o relacionamento de cinco décadas, repleto de altos e baixos e marcado pela arte. O roteiro é assinado pelo diretor e por Marc Abdelnour.


Reprodução/California Filmes


Nos papeis principais, temos Vincent Macaigne (Vidas Duplas) e Cécile de France (Além da Vida) interpretando Pierre Bonnard e Marthe de Méligny. Eles conseguem se abster muito bem durante toda a trajetória dos dois, individualmente e como casal. Vale destacar a atuação de Cécile, que descompõe muito bem Marthe e todas as suas camadas, seja na personalidade forte ou nos mistérios que a rodeavam, escondendo partes significativas de sua vida passada e criando um nome e um personagem para si mesma e, de certa forma, para Pierre.


Por outro lado, a atuação de Vincent é mais caricata e expressiva, mostrando os lados mais lascivos e interessados do pintor durante essas décadas de comunhão com seu amor. Apesar dos problemas que afetam o relacionamento dos dois, é nítido que o ator consegue expressar muito bem os sentimentos vividos pelo senhor Bonnard.


A Arte, O Amor e a Natureza


Um dos pontos que compõem o filme é a integração dos fenômenos da arte, do amor e da natureza, que se conectam de forma harmoniosa, tornando-se um personagem coringa para o enredo se desenvolver. A arte se manifesta tanto nos quadros de Pierre Bonnard quanto nas telas de Marthe. O amor, por sua vez, amadurece em cada ato, ao mesmo tempo que mantém uma certa infantilidade, refletida nas brincadeiras do casal, nos beijos, nos abraços e em toda a alegoria do filme.


Reprodução/California Filmes


Sem dúvida, a natureza é o que mais me chamou atenção na obra: as paisagens, o lago e os detalhes da casa que se mesclam com a floresta onde o filme foi gravado. É interessante ver como a natureza e as cores são representadas em cada cena, algo propositalmente feito pelo diretor e sua equipe. Isso é fortemente influenciado pelos personagens e seus sentimentos, refletidos no ambiente. Um exemplo é o próprio Bonnard, que, sempre ao lado de Marthe, é mostrado em cores mais vivas e cercado pela natureza. À medida que ele se distancia dela, especialmente quando conhece Renée Monchaty, as cores se tornam mais pálidas, simbolizando o desequilíbrio e a traição.


Esses fenômenos são observados não só no filme, mas também nos quadros de Bonnard na vida real e ao longo da trama.


Je Ne Sais Pas Si J'ai Aimé


Reprodução/California Filmes


Mostrar um casal apaixonado em filmes de época ainda mais casais europeus pode ter sido até parecer um desafio para o Marc Abdelnour e o Martin Provost, mas aqui é totalmente um clichê que chega a ser duvidoso e de uma forma que torna e a obra cansativa de assistir. Mesmo com toda a criatividade de mostrar o lado mais íntimo do casal, para mim isso não fluiu tão bem e parecia uma forma de aumentar o roteiro. 


Além disso, os atos de transição do longa vão se perdendo e se repetindo mesmo com os anos se passando e os personagens ficando mais velhos - a sensação de comprar um pacote de figurinhas e ver que todas iguais.


Vale um pão Francês?


O quilo do pão tá caro! Por mais que o diretor trouxesse toda a história e conhecimento na abordagem do filme, é possível ver falhas e cansaço nos atos do longa. "A Musa de Bonnard" acerta na atuação dos principais atores, na cenografia e na fotografia. Contudo, peca em não envolver o público, tornando-se uma história de novela das sete. Além disso, há falhas simples de maquiagem ao longo da obra. O filme só se destaca no último ato, que retrata os últimos cinco anos do casal e mostra de forma bonita o quanto Pierre Bonnard se sentiu feliz ao lado de sua amada.


Reprodução/California Filmes


Dessa forma, por mais que o diretor tenha mostrado toda sua atenção aos pequenos detalhes, outros ficaram de foram e que poderiam agregar muito bem com os desenvolvimentos do passado do pintor, os últimos anos de vida de cada um, os ângulos de câmera e mostrar mais potência no decorrer da obra.


Nota: 2.5/5 🖌️




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