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CRÍTICA | Deadpool & Wolverine é o atestado de óbito do cinema de super-heróis


Nostalgia. Uma ferramenta poderosa que pode mexer com os sonhos e corações até mesmo dos mais ranzinzas. Poder novamente ter um gostinho do que vivia na infância e relembrar todas as memórias de quando se era criança é u m baita de um presente. O problema é quando as mega corporações encontram neste ato nobre uma forma de lucro fácil, fazendo dos sonhos uma mera fonte de dinheiro.


Em 2022, quando Ryan Reynolds anunciou que Hugh Jackman iria voltar ao papel de Wolverine, a internet foi à loucura. Todos estavam ansiosos para ver Hugh viver mais uma vez o personagem que eternizou no cinema por mais de uma década. Apesar de alguns ficarem receosos — uma vez que Logan havia encerrado seu arco de forma perfeita em 2017 —, era impossível não se animar com a ideia de finalmente assistir o Carcaju interagindo com o mercenário tagarela nos cinemas.


Deadpool 1
Foto: Reprodução/ Marvel Studios

O hype era surreal e aumentou ainda mais no lançamento do primeiro trailer daquilo que prometia ser a “salvação da UCM”. “Realmente é o Jesus da Marvel”, era o que diziam. O filme prometia bastante, fazendo questão de mostrar vários personagens do antigo “Universo Cinematográfico da Fox” logo nos trailers — o que dava a entender que algo maior ainda estava escondido. Spoiler: não estava.


Isso não é o suficiente


Depois de dois anos de espera, o que recebemos foi um compilado de cenas em câmera lenta que não se preocupa em fazer nada além de algumas piadas e fan-service. E não, isso não é o suficiente. Não é porque um filme usa da nostalgia que ele tem passe livre para ser ruim. Um exemplo disso é Aranhaverso, que em dois filmes conseguiu entregar o equilíbrio perfeito entre referências, homenagens e uma boa história — sendo até hoje os únicos filmes de “multiverso de super-heróis” que conseguem genuinamente ser bons.


Como todo “bom” filme atual da Marvel, Deadpool & Wolverine não tem uma história propriamente dita, mas sim vários pretextos para que os personagens precisem fazer alguma coisa. A trama se baseia completamente em conveniências de roteiro. Os dois precisam escapar de tal situação? Então tome essa perna gigante com propulsor. Os dois precisam chegar em algum lugar? Então tome esse carro de um personagem que surgiu do nada — numa cena que é apenas uma forma de propaganda descarada para a Honda.


Deadpool e Wolverine
Foto: Reprodução/ Marvel Studios

Um dos trejeitos mais fortes de Deadpool é sua quebra da quarta parede e seu humor ácido. Porém, a nova produção parece feita de uma maneira tão porca que até isso ganha um tom de “exagerado”. Nos dois longas anteriores ainda existia alguma vontade de se trabalhar uma trama envolvendo Wade Wilson, mas agora ele está mais ocupado em cumprir sua cota de piadas — para o público ter certeza que o personagem ainda continua o mesmo apesar da Disney.


A ausência de um roteiro decente também afeta outros personagens. Começando pelo de Hugh que, apesar de ser ótimo revê-lo de novo no papel, não consegue passar credibilidade no drama que tenta entregar com seu Wolverine depressivo. Talvez por tentar ser sério numa produção que abraça o ridículo, talvez porque o filme não se esforça em mostrar a gravidade de sua tragédia. Os X-Men morreram, okay, mas e ai? Tudo o que temos é uma explicação meia boca, fazendo com que o herói pareça mais birrento do que melancólico.


Pyro
Foto: Reprodução/ Marvel Studios

E se para os personagens que dão título ao filme está difícil, imagine para os secundários. As participações especiais que aparecem no trailer e deixaram todos eufóricos não fazem diferença alguma, ao ponto de nem mesmo terem falas — com exceção de Pyro, que ganha um tempo de tela maior dentro da história. E infelizmente não são apenas eles. As outras participações também não ganham lá aquele destaque, ao ponto de algumas só aparecem em uma única cena.


Os vilões também não fogem desse cruel destino. Cassandra Nova é o arquétipo de garota confusa, não sabendo se quer destruir o mundo ou não. A personagem é escanteada completamente dentro da trama, aparecendo ao total de três cenas. Por sua vez, Paradoxo tem um papel mais ativo no longa, mas não consegue convencer como vilão. A motivação dos dois são pífias e eles vão acabar sendo esquecidos em pouco tempo.


Cassandra Nova
Foto: Reprodução/ Marvel Studios

A história é tão rasa que o filme termina deixando um enorme furo de roteiro envolvendo a coexistência de dois personagens iguais na mesma linha do tempo — algo que deveria ser o trabalho da AVT evitar. Mas tudo bem, né? Afinal de contas, foi para fazer uma cena bonitinha. O fã de HQs não consegue raciocinar por dois segundos que talvez, só talvez, aquilo não faça sentido, já que o personagem favorito dele está na tela.


Justificando a mediocridade


Você tem que entender que essa é a proposta do filme. Você não vai ao McDonald's esperando filé

Esse argumento soa tão ridículo quanto alguém falar que a proposta de seu trabalho é ser medíocre para justificar sua falta de habilidade. Além disso, até mesmo dentro das “linhas de fast food” existem aquelas que conseguem agradar e aquelas que são simplesmente um desperdício de dinheiro. Ser algo simples, ser uma comédia ou ser de super-herói não são justificativas para uma produção ser ruim.


Wolverine
Foto: Reprodução/ Marvel Studios

Eu poderia listar inúmeros exemplos de produções que são simples, de humor ou de super-herói que conseguem ser extremamente competentes “naquilo que se propoe”. Porém, não é preciso ir tão longe. O primeiro filme do Deadpool é um ótimo caso de um filme de comédia, de super-herói e que é simples, mas consegue ser muito bom. O filme é uma das melhores adaptações de um personagem de quadrinhos e consegue dosar tudo na medida certa.


Nos títulos posteriores, parece que cada vez mais o personagem de Ryan Reynolds está se tornando uma paródia de si mesmo. A cada filme precisamos de mais piadas por segundo, mais quebras de quarta parede e mais simplificação do roteiro. Um exemplo disso é quando no segundo longa a personagem Dominó funciona como um verdadeiro Deus Ex Machina e o protagonista faz uma piada sobre isso.


Fazer uma piada sobre seu filme ser ruim não torna ele bom, mas parece que os fãs de quadrinhos não entendem isso. Enquanto você se contentar apenas com algumas referências, easter-eggs e piadas, a empresa vai continuar entregando isso numa escala de produção quase industrial. E não é como se essas coisas fossem ruins, muito pelo contrário, elas são muito legais, mas só elas não são o suficiente.


Deadpool & W olverine 2
Foto: Reprodução/ Marvel Studios

Esse exagero não é visto apenas no roteiro, mas na própria direção. É muito irônico que as mesmas pessoas que reclamam dos filmes de Zack Snyder sejam as mesmas que elogiam as cenas em slow motion de Deadpool e Wolverine. A câmera lenta é utilizada tantas vezes que chega a incomodar. Além disso, as cenas de ação são gravadas de forma bem confusa em alguns momentos.


Também não se pode deixar de dar os devidos méritos. Todos os easter-eggs são bem legais, principalmente no que diz respeito aos visuais. Por muito tempo, os X-Mens da Fox ficaram conhecidos por ter uma certa vergonha de se assumir como uma produção de herói, tentando apostar numa estética mais “realista”. Deadpool & Wolverine corrige esse erro e entrega visuais incríveis.


Deadpool 3
Foto: Reprodução/ Marvel Studios

É notável que a produção por trás da obra tinha um certo carinho pelos personagens, resgatando diversos elementos que os fãs sempre desejavam rever nos cinemas. Só é uma pena que o longa não utilize essas referências da melhor forma possível, resumindo elas apenas em aperitivos visuais e não em algo que realmente some para a história que deveria ser contada.


Veredito


Deadpool & Wolverine tenta ser uma homenagem ao Universo Cinematográfico da Fox, mas acaba sendo um atestado de óbito do mesmo. O filme entrega referências visuais incríveis e resgata personagens que estavam literalmente esquecidos no limbo — embora a maioria desses não ganhe o devido destaque dentro da história, servindo mais como figurantes de luxo do que qualquer outra coisa.


O filme mostra mais uma vez como a indústria do cinema está usando a nostalgia como uma forma fácil de conseguir dinheiro. Em sua maioria, essas “homenagens” não possuem valor para além de reviver o passado — que às vezes era melhor continuar morto. O roteiro se mostra extremamente raso, não desenvolvendo de forma satisfatória os personagens e entregando mais furos do que uma trama propriamente dita.


Nota: 2,5/5




2 Comments


Guest
Dec 30, 2024

Excelente tuas palavras.

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Lu
Nov 26, 2024

Melhor crítica que li até agora.

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