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Como George Lucas criou Star Wars?

Atualizado: 8 de jun. de 2024


Star Wars

Star Wars é uma das franquias mais populares de todos os tempos, capturando os corações de milhões de fãs ao redor do mundo. No cerne dessa obra está a mente visionária de George Lucas, um cineasta cuja imaginação audaciosa e paixão pela narrativa visual transformaram uma ideia simples em um dos maiores símbolos do cinema de entretenimento e ficção científica. Entretanto, o americano, que estava em ascensão nos anos 70 após o lançamento de American Graffiti (1973), não tirou tudo da sua própria cabeça. Apesar de Star Wars ser uma ideia autoral e, em certa medida, singular, o seu criador teve inspiração em diversas referências que vão desde o cinema japonês, westerns e Duna de Frank Herbert até a Guerra do Vietnã. Além disso, durante o processo de realização, Lucas passou por dificuldades para finalizar o filme e revolucionou os efeitos especiais através de sua empresa, a Industrial Light & Magic (ILM), criada em 1975 como uma divisão da Lucasfilm.


Cinema Japonês e Akira Kurosawa


Star Wars bebeu muito da fonte do cinema de samurais. Baseando-se no período Edo do Japão, esses filmes denominados de, preste bem atenção na palavra, JIDAIgeki, influenciaram a ópera espacial desde figurinos e objetos até conceitos da série. O próprio sabre de luz, que se baseia em uma katana, principalmente pela forma como se luta, ou até mesmo o capacete do Darth Vader, remetem a esse gênero japonês.


Partindo desse interesse pelo cinema nipônico é importante ressaltar o principal expoente Akira Kurosawa, um dos diretores favoritos de George Lucas, que inclusive ajudou financeiramente alguns projetos do cineasta japonês. Kurosawa é uma referência bastante escancarada, especialmente por conta do filme A Fortaleza Escondida (1958), na época de lançamento um sucesso de bilheteria, mas hoje sendo um pouco esquecido em meio a brilhante filmografia do diretor.


A obra conta a história de dois camponeses que ajudam uma princesa medieval e um mentor samurai a escapar de forças imperiais inimigas. De acordo com Lucas, os camponeses do filme são a principal inspiração para os droides R2-D2 e C3PO, dupla que é o alívio cômico da franquia americana. Não satisfeito, o cineasta da Nova Hollywood também pegou emprestado do filme nipônico os fades, passagens graduais de uma cena para outra, um dos principais aspectos estilísticos da saga de Star Wars.



Star Wars

Reprodução/ Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança


Por fim, outra figura inspirada nos filmes do cineasta japonês é o tão amado mestre Yoda, que segue o mesmo arquétipo do personagem Kambei Shimada, de Os Sete Samurais (1954). No filme, que é provavelmente a obra mais reconhecida e aclamada de Kurosawa mundialmente, o personagem interpretado por Takashi Kimura é o líder sábio que cria um grupo de guerreiros para defender uma vila pobre.


Westerns Americanos


Os westerns também influenciaram a estética visual de Star Wars de maneiras sutis e marcantes. As vastas paisagens áridas e as cidades fronteiriças empoeiradas evocam imediatamente imagens dos territórios inexplorados do oeste dos Estados Unidos. Os próprios bares intergalácticos lembram na maior parte das vezes os saloons do faroeste americano.


Entre os personagens da franquia, há a presença de figuras que seguem o arquétipo do caçador de recompensas como Boba Fett. Contudo, a maior referência ao faroeste está provavelmente no personagem Han Solo, interpretado por Harrison Ford. O mercenário parece um cowboy espacial, com seu ar despojado, sua pistola na cintura e vagando para a próxima cidade do deserto americano, neste caso, o próximo planeta na galáxia. Sendo um personagem tipicamente de western em uma ópera espacial, o piloto da Millenium Falcon sofreu muita influência de protagonistas do gênero, em especial Blondie, interpretado por Clint Eastwood na trilogia dos dólares de Sergio Leone.



Star Wars

Reprodução/Lucasfilm/O Retorno de Jedi


Guerra do Vietnã


Diferente das inspirações cinematográficas, George Lucas também se baseou em um evento histórico, a Guerra do Vietnã, que desempenhou um papel significativo na concepção de Star Wars. O cineasta foi impactado profundamente pelos tumultos políticos e culturais dos anos 1960 e 1970, incluindo o conflito no sudeste asiático. O embate despertou nele uma profunda reflexão sobre o poder, a resistência e a luta pela liberdade, temas que são centrais na sua ópera espacial.


O Império, com sua maquinaria de guerra impiedosa e sua busca pelo controle total, reflete as preocupações de Lucas sobre o imperialismo e o autoritarismo que dominavam a política global durante a Guerra do Vietnã. Em contrapartida, os rebeldes, liderados por figuras como Leia, Han e Luke, personificam a luta pela liberdade e autodeterminação que Lucas testemunhou nos movimentos de resistência, neste caso, os vietcongues.


De acordo com o cineasta, o fascínio pelo evento foi por conta dos “pequenos” vencerem. “A ironia é que, em ambos, os pequenos venceram. O império altamente técnico – o Império Inglês, o Império Americano – perdeu. Esse foi o ponto principal”, disse Lucas em entrevista concedida à série documental Story of Science Fiction, realizada por James Cameron.



Star Wars

Foto/Wikimedia Commons

Duna

Por ser uma das obras de ficção científica mais influentes, Star Wars, assim como diversas outras, seguem caminhos parecidos com o livro de Frank Herbert. Há um império, um jovem que é o escolhido para mudar o caminho do universo, um poder que pertence a um grupo seleto e que cria o elemento fantasioso da obra (a Voz e a Força), entre outros.


Apesar dessas similaridades, o que mais chama atenção para mim é como os planetas Arrakis e Tatooine são parecidos e complementares ao mesmo tempo. São dois planetas desérticos de pedra e areia com dois corpos celestes, porém, enquanto Tatooine tem dois sois, Arrakis tem duas luas. Tatooine é de onde Luke Skywalker sai, enquanto Arrakis é para onde Paul Atreides se desloca, pelo menos no primeiro momento.



Star Wars

Reprodução/Lucasfilm/Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança


Processo de Realização e Industrial Light & Magic


Em 1971, George Lucas cria a Lucasfilm, produtora que viria a se tornar a casa da saga de Luke Skywalker. Após o sucesso de American Graffiti (1973), o cineasta teve a ideia da sua ópera espacial, mas financiar um filme de ficção científica de grande escala era desafiador.


Na época, os estúdios de Hollywood estavam hesitantes em investir em projetos de grande escala e orçamento, especialmente aqueles que pareciam arriscados. A 20th Century Fox concordou em fornecer financiamento, entretanto, ao longo da produção, Lucas precisou investir recursos próprios para concluir o filme. “George sentiu que tinha apenas 25% do que ele precisava, para o live-action e para os efeitos”, afirmou Patricia Rose Duignan, produtora de efeitos visuais, na série documental “Light and Magic”.


Para os efeitos especiais, parte que mais preocupava o cineasta durante a realização, Lucas criou a Industrial Light & Magic (ILM), empresa que, inicialmente como uma divisão da Lucasfilm, se tornou uma das produtoras mais revolucionárias de todos os tempos no aspecto visual. O criador de Star Wars montou uma equipe liderada por John Dykstra (assistente em 2001: Uma Odisseia no Espaço), que desenvolveu tecnologias inovadoras para efeitos especiais, criando modelos detalhados de naves espaciais, planetas e criaturas alienígenas.


Quanto a escolha dos atores, o elenco era formado majoritariamente por desconhecidos até então. É o caso dos protagonistas Mark Hamill (Luke Skywalker) e Carrie Fisher (Leia), além de Harrison Ford (Han Solo), que estava ascendendo em Hollywood mas longe de ser reconhecido como é atualmente.


Para terminar, George Lucas chamou John Williams para fazer a icônica trilha sonora da franquia. No Oscar seguinte, o compositor levaria a estatueta pelo trabalho em Star Wars.


O processo de realização foi uma jornada marcada por desafios financeiros e técnicos que foram recompensados. Com tantos obstáculos, o episódio IV atrasou seu lançamento, inicialmente agendado para dezembro de 1976, no entanto, a partir do momento que chegou às salas de cinema em 25 de maio de 1977, a saga virou o fenômeno cultural que é até hoje.


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