“BIRDMAN”, NO APAGAR DAS LUZES
- João Moura (Convidado)
- 16 de set. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 4 de out. de 2024

“Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” apareceu de repente, na última semana do semestre da faculdade. Precisava escrever sobre um produto audiovisual para uma matéria, e o que eu tinha em mente não rolou. Fui obrigado a recorrer à minha interminável lista de filmes para assistir, que toda semana acumula mais uma obra. A indicação também foi veemente reforçada pelo meu primo cinéfilo.
O longa de 2014 foi dirigido pelo autêntico cineasta mexicano Alejandro González Iñarritu, famoso também por títulos como “Amores Brutos” (2000), “Babel” (2006) e “O Regresso” (2015) — a produção que consagrou o primeiro e único Oscar de Leonardo DiCaprio, em 2016 —. Só encontrei no Disney+. Não sei se está disponível em alguma outra plataforma, mas sou totalmente a favor de caminhos alternativos.
O elenco é de peso, Michael Keaton estrela, Emma Stone e Edward Norton são grandes destaques. A comédia pode ser melhor classificada como um drama frenético. O dinamismo do plano sequência é essencialmente teatral e faz com que nossos olhos fiquem presos à tela enquanto acompanhamos a angústia da mente de Riggan Thomson, o protagonista de uma franquia de blockbusters de super-herói, “Birdman”, vivido por Keaton.
Riggan construiu uma carreira hollywoodiana de muito sucesso, mas escorada em apenas um personagem “raso”. O ritmo dramatúrgico da narrativa revela sua face metalinguística; para lidar com sua frustração e provar a si mesmo que é capaz de performar uma atuação de alto nível, o ator decide tentar a sorte em uma peça autoral na Broadway, assumindo a direção e o papel principal. O filme é quase 100% sem cortes. Em sintonia com as notas de jazz da trilha sonora, a transição de cenas é sutil. As imagens dançam entre os limites da fantasia e da realidade. Riggan constantemente se imagina com superpoderes, enquanto discute com a voz do Birdman em sua cabeça. Esses elementos consolidam a crise de identidade enfrentada pela estrela de Hollywood.
A ambientação é puro suco de Nova York. Cigarros. Trânsito. Álcool. Insultos. Norton interpreta quase um reflexo de si mesmo: um ator talentoso, vaidoso e problemático. Emma Stone está impecável, atribuiu intensidade e personalidade à personagem jovem, ex-viciada e inconformada com um pai ausente e obcecado pelo próprio ego.

O filme é uma experiência estética completa. É dinâmico, bem performado e ritmado. Intervenções musicais diegéticas e não-diegéticas se misturam e aumentam ainda mais a sensação de imersão. A direção e o roteiro bem executados permitem que o espectador compartilhe das mesmas visões que Riggan, o que nos aproxima do personagem. As referências da vida real me transportaram para o universo da crítica dos grandes jornais de NY e do público mimado da Broadway. A metalinguagem de produções assim sempre provoca discussões sobre os valores — ou a falta deles — na indústria cinematográfica de Hollywood. Acabou não sendo o filme que eu tinha planejado, mas com certeza valeu a pena
Nota: 5/5 🐦🕴🏼
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