A Parábola Cristã em Sinais (2002)
- Vitor Rocha
- 22 de mai. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de jun. de 2024

M. Night Shyamalan, apesar de polêmico, tem um estilo e marcas narrativas inconfundíveis. Uma delas é o embate entre fé e descrença, algo que está fortemente presente em "Sinais" (2002), filme estrelado por Mel Gibson. Mesmo sendo um longa de ficção científica, a obra traz consigo uma parábola cristã que constitui a verdadeira força de sua mensagem.
Infelizmente, é impossível tratar do tema sem revelar acontecimentos-chave da trama, portanto, fica o aviso de SPOILERS.
Antes de tudo, o que é uma parábola? Bem, no sentido empregado neste texto, uma parábola é uma narrativa que, mediante o uso de figuras de linguagem, transmite um conteúdo moral. Nesse sentido, uma parábola normalmente tem um foco muito mais no seu conteúdo simbólico do que na superfície do conto. Isso já desarma uma crítica muito comum a "Sinais", que é a falta de verossimilhança. Shyamalan não busca o realismo aqui, então não há por que cobrar que o filme faça escolhas realistas.
O simbolismo já começa pelo título: "Sinais". O termo não se refere apenas aos sinais deixados nas plantações pelos invasores, mas também aos sinais de Deus. Graham Hess (Mel Gibson) é um pai de uma família um tanto fria, composta por seu irmão mais novo Merrill (Joaquin Phoenix) e seus dois filhos Morgan (Rory Culkin) e Bo (Abigail Breslin). Após um acidente que tirou a vida de sua esposa, o ex-reverendo largou sua crença em Deus e nega sua existência.
Juízo Final e a Última Ceia

Reprodução: Sinais (2002)
O filme se assemelha ao dia do Juízo Final. Uma ameaça vem do céu para exterminar a raça humana, enquanto os mortais tentam compreender o que ou quem estão enfrentando. Nesse sentido, essa ideia vaga da ameaça que não tem explicação e foge da compreensão pode simbolicamente ser vista como um demônio, já que representa um perigo para o núcleo familiar, um símbolo cristão muito forte.
Com os invasores cada vez mais próximos, Graham passa a isolar sua família cada vez mais, reforçando toda a ideia de proteção ao núcleo familiar, culminando em uma última ceia. Na obra de Da Vinci, o anúncio de Jesus sobre sua traição e sacrifício é um prelúdio para a redenção dos pecados da humanidade, um conceito fundamental no cristianismo. Em "Sinais", a partir da ceia, a família expressa suas emoções reprimidas, gerando uma comunhão de sentimentos crucial para a redenção e recuperação da fé de Graham.
Sinais e o Propósito Maior

Reprodução: Sinais (2002)
Então, o filme chega ao seu clímax, onde ocorre o confronto entre o invasor e a família. Até aquele momento, sabíamos que a perda de fé de Graham na bondade divina se deu pelo acidente de sua esposa, que proferiu as seguintes palavras: “Diga a Merrill para bater com toda a força”. Referindo-se à habilidade no baseball do irmão de Graham, a sequência de confronto com a ameaça revela-se catártica.
Nesse momento, todos os sinais enviados por Deus são compreendidos. O invasor expele um gás mortífero em Morgan, mas o garoto tem asma, portanto, não inala o gás. Em seguida, o ex-reverendo relembra as palavras de sua esposa e pede para Merrill, que está ao lado do seu taco de beisebol, bater com toda a força. O personagem de Joaquin Phoenix acerta copos d'água deixados por Bo ao longo do filme devido à sua fobia com o líquido contaminado. A água, que no cristianismo tem um simbolismo claro de batismo e purificação, coincidentemente é a fraqueza do “alienígena”.
A seguir, Graham está com Morgan em seu colo, e após acordar sem ter sido envenenado, o garoto diz: “Alguém me salvou”, e o pai concorda em lágrimas. Neste momento, o personagem de Mel Gibson entra em acordo com Deus e restaura sua fé. No plano final, vemos Graham de volta com a batina e o quadro acima de sua cama mudou. Agora, a imagem é de uma estrada sinuosa, simbolizando o grande caminho a percorrer, tal qual sua vida daqui para frente.

Reprodução: Sinais (2002)
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