A escrita de Elden Ring e suas contradições belas
- Vinícius Nocera
- 8 de nov. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 10 de nov. de 2024

O fenômeno Elden Ring foi um sucesso absoluto no mundo dos jogos eletrônicos. O jogo pegou a fórmula iniciada em Demon's Souls e popularizada em Dark Souls, e a expandiu ao máximo, de forma que os mundos que antes eram interligado mas fechados se tornaram um enorme e livre
Dito isso, muito já se falou sobre as coisas que Elden Ring fez parecido e melhorou em relação aos jogos anteriores da empresa From Software. Entretanto, a escrita de sua história, seu mundo e seus personagens, eu considero que são aspectos que Hidetaka Miyazaki, diretor do jogo, decidiu seguir por um caminho diametralmente oposto.
A HISTÓRIA ANTES DO JOGO
A novidade sobre a escrita da história em relação aos outros jogos que seguiam essa abordagem na empresa (também conhecidos como jogos Soulsborne), é que agora eles estavam colaborando com o lendário escritor George R. R. Martin, autor da série de livros "As Crônicas de Gelo e Fogo", que também são o material base da série "Game of Thrones".
Martin ficou responsável por criar a mitologia de Elden Ring, assim como o seu mundo e seus personagens. De acordo com algumas entrevistas tanto com o escritor como com o diretor Miyazaki, foi possível concluir um aspecto interessante: Martin basicamente escreveu a parte da história antes do jogo começar, ou seja, o contexto dos acontecimentos.
De acordo com Miyazaki, enquanto Martin criou os personagens principais, a From Software foram responsáveis por estragá-los. Ou seja, o escritor pensava nas características principais, assim como suas falhas e virtudes. A partir daí, Miyazaki dava um jeito de que cada sujeito no jogo tivesse a vida mais miserável possível por volta de quando a gameplay começasse.

Isso acontecia principalmente por conta da estética dos jogos Soulsborne, que são obras Dark fantasy. Esse subgênero de histórias imagina um cenário medieval e mágico, porém com uma abordagem mais obscura, como se tudo tivesse dado errado. Uma das maiores inspirações para essa estética usada em Elden Ring foi o mangá Berserk, de Kentaro Miura. Miyazaki é um fã declarado de Berserk, e seus jogos estão cheios de referênciais ao mangá.
O QUE MUDOU?
Personagens em situações miseráveis não é uma novidade para jogadores de Soulsbornes, visto que a grande maioria ou está em sofrimento, ou vai terminar em desgraça, com finais felizes sendo extremamente raros.
O que acontece é que, na minha opinião, nos demais jogos Soulsborne os personagens aparentam ser escritos apenas para representar alguma função específica, ou algum conceito. Dessa forma, mesmo muitas vezes tendo designs bem interessantes, poucos sequer tem falas ou interações marcantes fora da batalha, pois o que importava era o que eles estavam representando no momento, e não eles em si.
Porém, mesmo não mudando a forma de contar a história, continuando seguindo pela forma sutil e com pouca exposição, os personagens em Elden Ring tiveram muito mais carisma e personalidade do que em qualquer outro Soulsborne. Isso acontecia principalmente por conta da exploração de suas vontades, o lugar em que cada um se encontrava, além das contradições que elas representavam.
Isso é muito importante. Quem já assistiu, e principalmente leu algum livro de As Crônicas do Gelo e Fogo, sabe como Martin é mestre em fazer personagens dúbios e moralmente ambíguos. Você pode até gostar de algum personagem, mas é muito difícil defender alguém como absoluto bem ou mal. Essa arbitrariedade é o que faz com que o leitor consiga se interessar pelos personagens, seja por identificação, carisma ou qualquer outro motivo. Os personagens diante deles parecem humanos, pois tem virtudes e também falhas.

Essa abordagem de escrita foi transposta em Elden Ring, de forma que praticamente todos os personagens principais da história, assim como vários menores, são muito amados ou odiados, sendo a minoria que gera apenas indiferença. Isso de um ponto de vista de roteiro é muito bom, pois assim o jogador consegue sentir quando personagens interagem ou morrem.
O mais impressionante é que tudo continua seguindo uma lógica extremamente sutil, em que por ter muitos personagens, cada um aparece bem pouco para a quantidade de tempo que o jogo tem. Porém, esses poucos momentos são muito memoráveis e marcantes, assim evidenciando como a mitologia e mundo de Elden Ring foram bem escritos e desenvolvidos. Essa colaboração entre o George R. R. Martin com Hidetaka Miyazaki e sua equipe foi simplesmente tudo o que os fãs poderiam querer e ainda mais.
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